
Fora dos Círculos do Tempo
Por Kenneth Grant. Tradução de Ícaro Aron Soares, @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.
Este livro enfoca diretamente ideias não desenvolvidas no trabalho de Crowley, ideias que são de relevância imediata, quase, diríamos, urgente hoje. Somente na última década, vários modismos e tendências científicas tornaram possível reavaliar o trabalho de Crowley num sentido “mais amplo” do que a estrutura exclusivamente “oculta” em que foi relegado até o aparecimento da minha “Trilogia Tifoniana [NOTA 1]”.
O fato de estas ideias terem permanecido subdesenvolvidas até hoje não é surpreendente quando consideramos que a morte de Crowley, ocorrida em 1947, coincidiu com uma onda sem precedentes de fenômenos inexplicáveis relacionados com o espaço e com os objetos misteriosos que por vezes apareciam nele.
Desde então, surgiu uma situação totalmente nova e os membros mais sensíveis da raça humana fizeram-se ouvir, levantando as suas vozes sobre a possibilidade da existência de formas de consciência direta e de auto-inteligência viva, fora ou para além da humanidade conhecida. Uma grande quantidade de material foi publicada recentemente sobre esses tópicos, tornando desnecessário que eu me alongue sobre esse assunto.
O significado das obras de Crowley neste contexto está, só agora, começando a aparecer como os valores do velho mundo, do velho aeon, desmembrando-se e passando por mudanças radicais. Por outro lado, toda a massa da humanidade – não um punhado de nações, por maiores e poderosas que sejam – está agora ameaçada pela destruição, como estava antes, quando quase sucumbiu à aniquilação total nos dias da Atlântida. Há quem acredite que já é lolo demais para evitar a repetição daquela catástrofe; Também é considerado possível, por certos membros da raça humana, conseguir sobreviver à referida catástrofe e aos seus efeitos. O fato desta forma de sobrevivência poder ser assegurada pela antecipação do conhecimento mágico, com o qual se consegue o acesso a outras dimensões do ser, fora dos círculos do tempo e do espaço, não é simplesmente uma crença. Esta tese foi desenvolvida tendo essas ideias em mente.
Agora, mais do que nunca no passado, é evidente que o ser humano deve encontrar o seu próprio centro, a sua “alma”, ou perder-se como entidade autoconsciente. Até agora, esta busca por significado foi alcançada por um número limitado de indivíduos através da descoberta da sua Verdadeira Vontade, no sentido crowleyano do termo; ou pelo Pássaro da Alma, nos termos de Gurdjieff; ou pela Individuação como descoberta da identidade pessoal, em termos junguianos. Mas estas soluções também pertencem à totalidade da humanidade como um todo e a uma sequência linear de tempo, na série dos aeons e na sua apoteose numa progressão evolutiva da consciência individual à consciência cósmica.
Foi Frater Achad, o filho mágico de Crowley, quem se encarregou de demonstrar a possibilidade de uma corrente aeônica onde os “três tempos”, passado, presente e futuro, se manifestaram simultaneamente e materializaram simultaneamente uma experiência direta de consciência ultradimensional e extra temporária. . Ele anunciou com sucesso seu vislumbre da manifestação de um ciclo de Tempo conhecido como o Aeon de Maat, que era esperado pela maioria dos ocultistas ortodoxos para substituir o atual aeon dentro de cerca de 2.000 anos a partir da introdução do Aeon de Hórus por Crowley, em 1904. A maior realização de Frater Achad foi, sem dúvida, a sua capacidade de expor o significado da manifestação em termos consonantes com os Ensinamentos Diretos de Maat. Tais ensinamentos foram canalizados recentemente – quase trinta anos após a morte de Achad – e publicados sob o título Liber Pennae Praenumbra [NOTA 2] por uma adepta que deseja permanecer anônima; Porém, por ser membra ativa da O.T.O. Tifoniana, e como seu trabalho é exposto e discutido em alguns dos capítulos seguintes, nos referiremos a ela como Sóror Andahadna [NOTA 2], nome pelo qual é conhecida na referida Ordem.
O Liber Pennae Praenumbra foi transmitido – como o Livro da Lei a Crowley – por uma inteligência preterhumana. Além disso, assim como a Corrente de Hórus foi associada a Crowley, da mesma forma a Corrente Maatiana foi associada a Andahadna, que já produziu efeitos observáveis, particularmente em indivíduos sensíveis à presença de influências ocultas, e naqueles que foram absorvidos pela reativação do Vórtice de atividade mágica no Novo Mundo. No entanto, antes que o equilíbrio preciso entre os aspectos noturnos e diurnos da existência tenha sido alcançado nos humanos, ocorreu uma crise de consciência para uma grande parte da humanidade. Esta experiência é conhecida como a Ordália do Abismo; Seu significado completo é desenvolvido e exposto em minha Trilogia Tifoniana e em Magick [NOTA 4], Apêndice II, onde Crowley descreve as implicações da Ordália em termos de realização mágica individual. Em relação à humanidade considerada como um todo, este conceito envolve a experiência massiva de um Aeon que carece de Palavra, sendo este um conceito explicado em profundidade nas páginas seguintes. Crowley estava ciente de que um aeon estava ocorrendo, mas atribuiu isso a ciclos de tempo remotos e não entrou em detalhes sobre o assunto. Uma versão pirata publicada recentemente dos Diários de Crowley inclui uma referência a este Aeon sem Palavras, mas erra, como Crowley, cometendo um erro grave que permanece sem correção no original usado pelo editor não autorizado. Na verdade, a Ordália envolve o mistério dos Gêmeos (o signo) e uma fórmula mágica sombria relacionada a Zain. Este livro explica a natureza dessa fórmula, mostrando também que o ser humano está, neste momento, no limiar de um Aeon sem Palavras. Isto implica que o ser humano deve passar pelo Deserto de Set (outra expressão que será explicada oportunamente) e emergir na clara luz do Aeon de Maat. Mas isto deve ser feito sem a orientação que as influências supernas representaram até agora, monitorando a evolução da consciência.
Frater Achad acessou o conhecimento, mas não teve evidências totalmente conclusivas mostrando que Crowley falhou completamente em seu papel como “Magus” por causa de sua falta de capacidade de pronunciar a Palavra do Aeon de Hórus (o presente aeon), e que, portanto, o Aeon atual é ele próprio o Aeon Sem Palavras, cujo advento foi temido e abominado pelos profetas do passado. Um Avatar Mundano contemporâneo, Meher Baba, também falhou em pronunciar a Palavra prometida.
A crescente escalada global de tensões ameaça aumentar e, em última análise, engolir a humanidade; Uma ponte para cruzar o Aeon Sem Palavra também apareceu milagrosamente e – como uma rede que se expande no Espaço e no Tempo – torna possível o transporte para outras dimensões, e outros aeons, para aqueles membros da raça humana que compreenderam a Palavra ou a Voz do Silêncio.
O Grande Pilar que guarda a primeira porta para os Aeons fora do espaço e do tempo, é o Pilar da Dupla Corrente (Hórus-Maat) e nesta base nidifica o Abutre de Maat, o gêmeo escuro do falcão dourado manchado com o sangue do Aeon de Hórus.
Sobre o “Livro dos Mortos” (ou Não Manifestados) em suas versões egípcia ou tibetana [NOTA 5], pouco foi dito nestas páginas já que ambos são bem conhecidos, mas mais foi dito sobre o “Livro dos Nomes dos Mortos” (Necronomicon). porque H. P. Lovecraft, que foi quem revelou ao público a existência deste “novo” livro do Imanifestado, deixou uma explicação bastante insatisfatória sobre a sua verdadeira origem, bem como o valor indubitável que o referido livro tem tanto para a prática ocultista e para o simples leitor interessado apenas nos aspectos teóricos e literários desses temas.
NOTAS DO TRADUTOR
[1] Por “Trilogia Tifoniana”, Grant se refere aos três primeiros livros: O Renascer da Magia, Aleister Crowley e o Deus Oculto e Cultos das Sombras.
[2] Sóror Andahadna é o mote mágico de Margaret E. Ingalls, também conhecida como Nema.
[3] Pode ser traduzido como o “Livro do Pré-Ocaso da Pena“.
[4] Liber ABA.
[5] Respectivamente, o Livro Egípcio do Mortos e o Bardo Thodol.
SOBRE O TRADUTOR
Ícaro Aron Soares, é colaborador fixo do PanDaemonAeon e administrador da Conhecimentos Proibidos e da Magia Sinistra. Siga ele no Instagram em @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.