Shakta Bhakti: A Devoção à Deusa

Via Sangris

Por Juny McDaniel, Revista Anticósmica, Tradução pelo Projeto Zarzax. Revisão de Ícaro Aron Soares, @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.

Shakta bhakti ou amor devocional é a adoração de uma única grande deusa, Mahadevi ou Mahakali ou Parama Shakti, uma deusa com muitos nomes. Também pode ser a adoração de deusas menores, que podem não ter o poder esmagador da grande deusa, mas ainda podem motivar a pessoa a se tornar uma devota. Como um devoto de Kali entrevistado revelou: “Eu me refugiei aos pés da mãe. Eu quero estar com ela até morrer. Dia e noite eu moro aqui no templo, nunca vou a lugar nenhum. Aqui estou eu e aqui fico. A mãe me dará abrigo.” A grande deusa é sem nascimento ou morte, eterna, independente, a alma do universo. Ela é maior que o universo, mas ao mesmo tempo menor que um átomo. Ela está tanto dentro do samsara quanto além, e suas formas manifestas incluem o sol e a lua, os ventos, todos os seres humanos e animais, os oceanos e a terra. Ela é adorada em qualidades como intelecto, riqueza, força, misericórdia, modéstia, perdão, paz e proteção. Compreendemos quatro tipos principais de Shakti bhakti em Bengala Ocidental. Estas são:

1. Bhakti popular

2. Bhakti emocional

3. Bhakti política ou nacionalismo

4. Bhakti universalista ou Shakta Vedanta

1 – A bhakti popular é encontrada na literatura mangal-kavya, as histórias de deusas que são forasteiras divinas, que entram no mundo para ganhar discípulos e proceder com base na recompensa e punição. As divindades masculinas não as ajudam – essas deusas estão em suas causa própria. Os devotos devem obedecer à posição comum, ou as causas devocionais serão um desastres. Desta forma, eles diferem da orientação do grupo da maioria das deusas tribais e folclóricas. As deusas da bhakti popular buscam devotos individuais e um relacionamento pessoal com eles. Às vezes, essas deusas já foram mulheres humanas, que morreram e foram transformadas, e outras vezes são divindades regionais ou deusas sânscritas que são cultuadas como figuras regionais, como a Kali de um búfalo em particular ou a Lakshmi de um campo em particular. Eventualmente o grupo pode adorar a deusa, mas suas paixões (e às vezes sua destrutividade) estão focadas em um único indivíduo.

2 – Seguidores da bhakti emocional focam no amor devocional, e frequentemente tendem a desprezar os aspectos folclóricos do shaktismo como envolvendo apenas propiciação ou troca econômica e falta de amor verdadeiro. Como fazem os vaishnavas bengalis, no bhakti emocional enfatiza-se a devoção apaixonada à divindade. Ela habita tanto em seu distante paraíso (de Manidvipa ou Kailash) quanto no coração de seus devotos. Ela pode trazer bênçãos terrenas, mas também a salvação do renascimento, vida em seu mundo celestial e libertação final para aqueles devotos que a desejam. O amor da deusa é mostrado através de lágrimas, risos, canções e sintomas extáticos. Ambos, bhakti popular e emocional, são fortemente experienciais, mas os textos antigos valorizados pelos estudiosos são frequentemente desconhecidos ou ignorados pelos devotos. Como resultado, acaba muitas vezes se fechando em uma tradição oral.

Os devotos de Shakta que não leem os puranas e tantras ouvirão as canções de Shakta e lerão as biografias dos santos ou dos aperfeiçoados (siddhas). Para esses devotos, as canções e biografias populares são, elas próprias, textos sagrados, pois falam de experiências da deusa. As canções de Shakta têm sido amplamente cantadas, e biografias de santos podem vir de coleções publicadas de vidas de santos, ou de histórias contadas dentro de grupos religiosos (como grupos de Kali-kirtan, onde hinos para a deusa são cantados).

3 – O terceiro tipo de Shakta bhakti, a bhakti política ou o nacionalismo, tende a ser encontrado em maior medida em situações de convulsão política e social. A deusa é a Mãe em sua forma como natureza ou pátria, e ela precisa ser protegida do mau comportamento dos invasores ou forasteiros. Ela é resgatada por seus filhos, que se tornam seus protetores e heróis por direito próprio. Como em muitas situações familiares na Índia, a mãe é apoiada por seus filhos. Esse tipo de devoção é primariamente ética, e a deusa é invocada como justificativa para a ação política ou social. A experiência religiosa é encontrada em sentimentos de patriotismo e amor ao país e ao campo.

4 – O quarto tipo de devoção, a universalista ou Shakta Vedanta, é um desenvolvimento posterior do shaktismo do santo Ramakrishna Paramahamsa, do século XIX, levado adiante por seu discípulo Vivekananda e seus seguidores. Ele enfatiza a verdadeira natureza da deusa como brahman e a filosofia e a ética como a melhor maneira de compreendê-la1. Ela é uma forma ideal ou representação da realidade ultimal, e os textos sagrados para os seguidores dessa abordagem seriam as biografias de Ramakrishna, assim como textos hindus clássicos, por exemplo os Upanishads e o Bhagavad Gita. A deusa é entendida como presente dentro de todas as divindades, e todas as religiões são caminhos legítimos para sua adoração. No entanto, a forma da deusa representa o amor materno e é a mais doce e atraente para os praticantes. Todos esses quatro subtipos podem ser amplamente encontrados no Shaktismo Bengali hoje, independentemente ou misturados uns com os outros.

NOTAS

1 A imagem tradicional de Shakta bhakti é aquela que é similar a Vaishnava bhakti: um devoto leal e amoroso e uma divindade misericordiosa. No entanto, o Shaktismo é uma tradição com muitos aspectos.

SOBRE O REVISOR

Ícaro Aron Soares, é colaborador fixo do PanDaemonAeon e administrador da Conhecimentos Proibidos e da Magia Sinistra. Siga ele no Instagram em @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.

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