Virabhadra: A Ira de Shiva

Por Ícaro Aron Soares, @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.

Virabhadra (वीरभद्र, ‘Herói Auspicioso’), também transliterado como Veerabhadra, Virabathira e Virabathiran, é uma forma feroz do deus hindu Shiva. Ele é criado pela ira de Shiva, quando a divindade joga uma mecha de seu cabelo emaranhado no chão, ao ouvir sobre a autoimolação de sua consorte, Sati, no Daksha yajna, o Sacrifício de Daksha.

Ele aparece nos Puranas como um ser vingativo, atacando as divindades que compareceram ao Daksha yajna, juntamente com Bhadrakali. Na confusão que se segue, os olhos de Bhaga são arrancados, Agni, Mitra e Chandra também são atacados. O destino do próprio Daksha varia de texto para texto: Virabhadra o decapita, ou insta-o a implorar perdão a Shiva ou Daksha é salvo por Vishnu, que derrota Virabhadra.

Virabhadra foi criado por Shiva depois que Sati, a esposa de Shiva, se imolou durante o Daksha Yajña.

O MITO DE VIRABHADRA

A origem da lenda de Daksha Yajña está no Taittirīya Samhita 2.6.8, onde Rudra (posteriormente Shiva) foi excluído do sacrifício pelos Devas, então Rudra estragou o sacrifício. Pushan perdeu os dentes e Bhaga ficou cego. Esta lenda também é mencionada no Shatapatha Brāhmana do Shukla Yajurveda e no Gopatha Brāhmana do Atharvaveda. A versão do Gopatha Brāhmana menciona Prajapati como aquele que excluiu Rudra do sacrifício. Na literatura pós-védica, Daksha Prajapati excluiu Shiva do Yajña.

De acordo com o Shaivismo, as origens de Virabhadra são descritas da seguinte forma: Sati era a filha mais nova de Daksha. Enquanto crescia, ela tinha seu coração voltado para Shiva e o adorava. Durante o svayamvara (cerimônia védica da escolha de marido) de Sati, Daksha convidou todos os Devas e príncipes, exceto Shiva. Sati lançou sua guirlanda para o alto, pedindo a Shiva que a recebesse, e o viu parado no meio da corte, com a guirlanda em volta do pescoço. Daksha não teve escolha senão aceitar o casamento de sua filha com Shiva.

Um dia, Daksha convidou todas as divindades, bem como todos os seus filhos e netos, para realizar um sacrifício ritual, deliberadamente não convidando Sati e Shiva. A vontade de Sati de comparecer ao evento, devido ao carinho que tinha pelos pais, superou a etiqueta social de não ir a uma cerimônia sem ser convidada. Quando Shiva se recusou a acompanhá-la, Sati insistiu em comparecer ao ritual sem ele. Ao chegar, Daksha começou a humilhar ela e seu marido, expressando seu ódio por Shiva na frente de toda a assembleia. Incapaz de suportar a ignomínia, a furiosa Sati saltou no fogo sacrificial, imolando-se com suas habilidades iogues. Quando Shiva ouviu essas notícias, ele arrancou uma mecha de seu cabelo emaranhado, de onde surgiram Virabhadra e Bhadrakali. Shiva instruiu Virabhadra a estragar o sacrifício e destruir todos os seus participantes.

Maheshwara respondeu, ‘Estrague o sacrifício de Daksha’. Então o poderoso Virabhadra, tendo ouvido o prazer de seu senhor, inclinou sua cabeça aos pés de Shiva; e começando como um leão solto das amarras, despojou o sacrifício de Daksha, sabendo que este havia sido criado pelo descontentamento de Devi. Ela também em sua ira, como a temível deusa Rudrakali, o acompanhou, com toda sua comitiva, para testemunhar seus feitos. — Vayu Purana.

O Padma Purana identifica Virabhadra como a forma feroz de Mangala (Marte). Virabhadra nasce quando Shiva, devido à sua angústia pela morte de Sati, transpira, e sua transpiração cai sobre a terra. Isto dá origem ao feroz Virabhadra, que destrói o sacrifício. Na sequência, Shiva o acalma e faz dele Angaraka, o planeta Marte.

DAKSHA YAJNA – O SACRIFÍCIO DE DAKSHA

O Skanda Purana afirma que maus presságios começaram a surgir imediatamente quando as forças de Shiva começaram a marchar sobre o Daksha yajna, descrevendo uma chuva de sangue e chuvas de meteoros. Achando esses fenômenos agourentos, Daksha buscou a proteção de Vishnu, que concordou em oferecê-la, ao mesmo tempo que culpou o primeiro por seu desrespeito. As forças de Shiva consistiam em Navadurga (as Nove Durgas), rakshasas (demônios devoradores de homens), yakshas (demônios das riquezas), pishachas (fanstasmas maléficos), uma série de bhutas (fantasmas), milhares de ganas (devotos de Shiva), bem como iogues e guhyakas (gênios). Essas forças eram comandadas por Virabhadra, com três olhos, portando mil armas, entrelaçadas com grandes serpentes, com sua carruagem puxada por dois mil cavalos e um milhão de leões. Indra e os devas foram auxiliados por Bhrigu para derrotar a primeira onda de ataques dos ganas. Irritado, Virabhadra organizou suas forças em um contra-ataque e, empunhando seus machados de batalha e clavas de ferro, elas começaram a massacrar os devas. Os sábios imploraram a Vishnu que defendesse o sacrifício dos atacantes, e a divindade se preparou para lutar contra Virabhadra. Enquanto Virabhadra oferecia sua reverência à divindade preservadora, ele o acusou de buscar uma parte das ofertas do sacrifício e o advertiu contra permanecer lá. Vishnu riu e informou-lhe que ele tinha o dever de proteger seus devotos e que partiria depois de se fartar das flechas de Virabhadra. Indra escolheu desafiar Virabhadra e o atingiu com seu vajra (raio). Em retaliação, Virabhadra tentou engolir Indra e também sua montaria, o elefante Airavata. Vishnu interveio, salvando Indra e obstruindo o ataque de Virabhadra. Ele também convocou os Ashvins, os devas gêmeos do amanhecer, que curavam os devas caídos com seus remédios. Enfurecido, Virabhadra confrontou Vishnu. A divindade preservadora empregou seu disco, a Sudarshana Chakra contra Virabhadra, que este engoliu inteira. Depois de recuperar seu disco celestial, satisfeito por ter mudado o rumo da batalha, Vishnu retornou para sua residência. Não satisfeito com a carnificina, Virabhadra atacou Bhrigu, Pushan, e quando viu o aterrorizado Daksha encolhido sob o altar, ele o decapitou, oferecendo sua cabeça ao fogo como sacrifício. O perturbado Brahma visitou Shiva e implorou-lhe que acabasse com o derramamento de sangue. Shiva chegou ao Daksha yajna, conversou com Virabhadra e restaurou a vida de Daksha colocando a cabeça de um animal deformado, ou de um bode, em seu pescoço. O ressuscitado Daksha ofereceu sua reverência a Shiva, o que encerrou o conflito.

Várias escrituras, coloridas por suas tradições, oferecem variações do conflito e do papel de Virabhadra na lenda. O Kurma Purana faz Virabhadra perceber que Vishnu e Shiva são a mesma divindade e proclama que o mundo foi criado por Narayana. No Harivamsha e no Vamana Purana, Vishnu ganha vantagem em sua luta contra Virabhadra.

SOBRE O AUTOR

Ícaro Aron Soares, é colaborador fixo do PanDaemonAeon e administrador da Conhecimentos Proibidos e da Magia Sinistra. Siga ele no Instagram em @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.

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