O Espelho de Vênus

Por Lanna Madalena, @hetaira_de_lamah. Revisão de Ícaro Aron Soares,  @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.

Passei por uma noite de insônia com os assombros que me permearam como fantasmas soprando zunidos de inquietação. E só depois pude nomeá-los pelos seus nomes uma vez que são tão presentes na vida humana mas que tão pouco lembramos de quem são, seus nomes são Fobos e Deimos (Medo e Terror), os filhos que estão sempre ao lado de seu pai, Ares, aonde este está sempre corajosamente a travar as suas guerras.

Quando pude identificar que possivelmente algo dentro de mim estava em guerra de nível mental e espiritual, posteriormente me recordei que eu só poderia equilibrar todos os meus conteúdos inconscientes sob estas influencias geniosas e marcianas, quando eu pudesse me lembrar de evocar a filha de Afrodite e Ares, a Harmonia.

Para o melhor entendimento a sua falta sempre dará vazão para que os seus irmãos possam atuar e ocupar o campo de guerra mental com o seu pai, pois somente a deusa Harmonia nos imbui de boas verdades.

A guerra em nós anseia por amor e pelo prazer que nos anima. É isto que nos afasta das batalhas que não servem para nada nem dentro e nem fora. “O amor vencendo todas as batalhas”, só utiliza das guerras por amores vereditos, por isso que a deusa do amor suporta a face da guerra com toda a sua belicosidade, e não admira que Afrodite e Ares sejam amantes que carregam a verdadeira luz por trás de todas as suas sombras, que ressoam como opostos, mas são impulsos ao mesmo tempo, eles exaltam o desejo de unidade acima de todas as coisas, porque juntos eles geram e dão vida aos gênios que os acompanham mesmo separadamente.

Amor e guerra são um com a união. Não há homem ou guerra que possa resistir o poder da deusa e ao amor que a acompanha. A força e o poder nascidos de ambos são sempre a harmonia eterna de sua filha, que permite que o deus da guerra se junte à deusa do amor na relação sexual, e então o amor e Afrodite se tornam a deusa guerreira que vence sua guerra.

Os homens fragilizam-se, e seus corpos quando drenados pelos espermas após a fusão de troca sexual perdem o vigor e a organização dando-lhes apenas o desejo de paz e tranquilidade em meio à sua fragilidade.

A deusa leva em si a força da masculinidade e sente sua força de mulher, bruxa e deusa devolvida, quando se sente verdadeiramente desejada e amada. Pois ambos se alimentam dando a cada um o que precisam, o poder da sedução natural restaura a sua força (que é o seu poder), mas também Ares sabe exatamente onde repousar a sua cabeça com segurança e conforto depois de tantas batalhas, com o sangue derramado, o excesso de sua fúria, as perdas e a instabilidade entre vitórias e derrotas no peito e no seio de Afrodite.

A fusão dos dois sempre gera uma terceira criação, é uma união que sempre faz nascer algo verdadeiramente criativo e inovador no mundo dos deuses e mortais, quando a força e a inspiração vêm através do desejo e do prazer entre dois poderes imensos, unidos em um só como o Ying e Yang, no movimento de expansão e retração, inspiração e expiração e todos os movimentos que fluem e refluem. É o ato de dançar neste prazer que cria vida e morte para que tudo tenha um terceiro impulso para uma nova transformação, harmonizando o ritmo e a vibração do ciclo da natureza e emanando essas forças nas almas dos homens e mulheres da terra em sua geometria macrocósmica exercendo sua influência na vida microcósmica.

É sabido mesmo nas histórias que podemos ver que cada divindade individual tem sua própria luz e a sua própria sombra, e ambas também ressoam com tendências humanas que devem ser consideradas em si mesmas o louvor dos deuses, para que nos resignemos a buscar a harmonia que é a deusa que traz triunfo à união de Afrodite e Ares.

Os deuses não são humanos, estes estão para além dos limites temporais, ao mesmo tempo que trazem a solução de sua criação quando estão em todo o universo através de suas histórias eternas, nas mentes e nos corações dos homens.

Depois que os filhos aliados de Ares, suas crianças virem nesta noite para que eu pudesse ver meus limites através do terror e da fobia que a própria vida pode causar, só assim reconheci que a harmonia vindoura quando se ama as faces da luz e das trevas de Eros, no fluxo do movimento da serpente em suas ondas de transição entre Afrodite e Ares.

Por fim, quero dar a você uma das ferramentas iniciáticas que nos levará direto ao reino de Afrodite, o elemento é o instrumento e o enigma da verdade para todas as Hetairas e Prostitutas sagradas, do passado e do presente, que adoravam a deusa do amor.

Existem muitas ferramentas que funcionam para as seguidoras e amantes da venerada Cípria, mas esta em particular é especialmente valiosa nas diversas dimensões do culto à deusa, pois carrega diferentes formas de ir e fazer magia, receber e projetar a imagem da deusa através das infinitas manifestações do corpo, que torna cada mulher exclusivamente feminina.

O espelho de mão antigo é uma das ferramentas mais preciosas que deve ser seguida por quem se depara com o reino de luz e sombra de Afrodite, pois o próprio instrumento devidamente consagrado e tratado com os poderes orgásticos de sua senhora, abrirá as portas para o reino de muitos poderes que lhes serão emprestados até o fim da vida.

Esses poderes estão entre os mais simples e terrenos, exercidos pela própria deusa num olhar e rosto experimentais, de como gerar amor e saboreá-lo de corpo e alma, aonde a chamamos de, Afrodite Pandêmia.

O poderes seriam como projeções dos encantos de beleza e feiura (glamour), o uso ativo de sentidos corporais como a visão para exercitar respostas imediatas e intuitivas, a expansão de prazeres estéticos e sinestésicos, imaginação consciente e etc.

Já utilizando o poder da Afrodite Urânia, este espelho também conterá os registros da imagem da senhora que o possui em outro aspecto.

Terá poder e criará um portal onde serão registradas as experiências da alma de quem o possui, portanto, seu uso consciente com o intuito de retecear o caminho da Rosa de Afrodite, abrirá o coração diretamente para a essência da alma, e este é o caminho certo que Afrodite pode oferecer, pois até a rosa tem todos os seus espinhos. Na jornada espiritual devemos compreender que corpo e alma ascendem juntos.

Podemos usar nosso espelho para examinar os segredos dentro de nós e o reflexo do que precisa ser elevado e mostrado acima dos olhos do corpo, para elevar nossa visão acima do próprio ego. E isto está além da nossa ilusão narcisista de poder e da vã vaidade, a verdadeira beleza que só o coração pode bater neste espelho…

De alguma forma entendemos que este espelho que seguramos não não será mais apenas a capacidade de ver face a face com os olhos físicos, mas também a possibilitar a capturar partes de quem somos no plano atemporal.

Em geral, e voltando para a mão esquerda de Afrodite (que é aquela que paira sobre sua genital), podemos dançar, colocando nosso espelho para refletir as nossas genitais projetando a fecundidade, criatividade e vontade; que são partes desta região do querer, que pertence aos nossos órgãos genitais. Reconsagremos-os continuamente com a essência e poder pessoal, lembrando que ninguém além de nós pode ousar tocá-lo. Ele sempre será o meio pelo qual veremos a deusa agindo através dos nossos corpos, que são múltiplos e únicos dos verdadeiros mistérios místicos da rosa e do culto à deusa, isto é, a prostituta sagrada. E que este levará uma parte de nós sempre consigo.

SOBRE A AUTORA

Lanna Madalena é Psicóloga pela Faculdade Anchieta de São Bernardo do Campo, pós-graduanda em Ayurveda pelo Naradeva Shala, e também em Filosofia pela Nova Acrópole. Iniciada em Neotantra, adepta da magia da mão esquerda, e transfeminina seguidora e amante das Deusas Afrodite e Inanna. Siga ela no Instagram em @hetaira_de_lamah.

SOBRE O REVISOR

Ícaro Aron Soares, é colaborador fixo do PanDaemonAeon e administrador da Conhecimentos Proibidos e da Magia Sinistra. Siga ele no Instagram em @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.

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