Via Tortuosa: A Bruxaria Tradicional

O Caminho Tortuoso

Por Gemma Gary, The Crooked Path.  Tradução de Ícaro Aron Soares, @icaroaronsoares e @conhecimentosproibidos.

As origens e o conhecimento da Bruxaria de hoje são um emaranhado, e suas tradições e variantes são uma teia de muitos fios. Seguindo nosso caminho de volta pelos fios mais antigos, encontramos as antigas crenças das Bruxas, dando origem àquelas consideradas “além dos limites” e temidas por seus poderes misteriosos de amaldiçoar (e às vezes de curar), poderes há muito atribuídos a encontros e relacionamentos com o Diabo, espíritos familiares ou algum outro enviado do Outro Mundo. Da mesma forma, nós também pegamos os fios que nos levam às antigas “bruxas brancas”, magos e pessoas astutas de comunidades rurais e urbanas, cuja Arte era de magia operativa, de adivinhação e bênção ou malefício, de acordo com as necessidades e desejos de uma clientela pagante.

Aqui pode ser percebida uma espécie de herança, pois embora algumas Pessoas Astutas extraíssem seu conhecimento e poder da aparente posse de textos mágicos, relatos falam de outras lidando com familiares e tendo tido encontros com espíritos e seres de outro mundo, dos quais ganharam a habilidade de fornecer curas, realizar adivinhações e combater a influência maligna das Bruxas malévolas.

Na Grã-Bretanha, esta vertente específica da Bruxaria atingiu o seu apogeu no século XIX, desaparecendo gradualmente e tendo praticamente desaparecido na década de 1930. No entanto, por baixo deste aparente declínio, mudanças e evoluções já estavam em curso há muito tempo. A ascensão de fraternidades iniciáticas clandestinas, do ocultismo de grupo e do espiritismo popular ao longo dos séculos XVIII e XIX pode muito bem ter proporcionado um ambiente e uma confluência de ideias em que praticantes outrora solitários de tradições astutas e de bruxaria desenvolveram lojas de trabalho e estruturas de coven nas quais consolidaram, nutriram e continuaram seus ofícios e mistérios.

O primeiro, e posteriormente o mais proeminente, tipo de Bruxaria de coven a emergir na consciência pública foi, naturalmente, aquele promulgado por Gerald Brosseau Gardner. Evidentemente, a sua visão era de uma Bruxaria para as massas, e assim Gardner começou a retrabalhar e construir sobre a forma possivelmente fragmentária de Bruxaria na qual tinha sido iniciado na década de 1930. Baseando-se em seus interesses no Paganismo da era romântica, na Maçonaria e no ocultismo cerimonial, Gardner foi capaz de forjar um sistema bonito e funcional de Bruxaria pagã comemorativa para a nova Era de Aquário.

Outras tradições e recensões da Arte surgiriam, no entanto, muitas vezes em desacordo com Gardner e suas inovações, alegando representar abordagens pré-gardnerianas da “Antiga Arte” à Bruxaria. Estas normalmente enfatizavam a astúcia operativa, o ritual menos formalizado e um misticismo gnóstico baseado nas virtudes e presenças ocultas da paisagem, do mundo espiritual e das práticas folclóricas. Assim nasceu o movimento da Bruxaria Tradicional, compreendendo aqueles que afirmam representar tradições mais antigas e aqueles que se inspiram na Bruxaria histórica apresentando caminhos alternativos à Wicca.

Embora, é claro, a visão de Gardner para a Arte tenha sido fenomenalmente bem-sucedida, atendendo admiravelmente às necessidades de muitos chamados à sua abordagem dos mistérios, há sem dúvida um ressurgimento atual daquelas expressões da Arte que são mais magicamente operativas em ênfase, em vez de comemorativo. Parece haver um grande desejo por uma Arte que esteja profundamente enraizada naqueles lugares solitários e numinosos de poder dentro da terra, em que virtudes poderosas possam ser extraídas, aliados espirituais recomendados e o caminho atravessado entre os mundos. Aqui também a matéria mágica da planta, da pedra e do osso pode ser procurada nas sebes, nos campos, nas florestas e à beira da água. É com a ajuda de tais forças espirituais e ferramentas dadas pela natureza que um grande número de buscadores da arte mágica são agora atraídos para trabalhar os caminhos do olhar da Bruxa, da bênção e do malefício, do exorcismo e da conjuração, e da criação de amuletos, encantamentos e talismãs.

Embora na Antiga Arte as forças espirituais e a sabedoria sussurrante dos lugares selvagens e solitários sejam professoras primárias, a orientação de alguém que já percorreu o círculo dos sábios muitas vezes é inestimável. Entretanto, poucos têm acesso a tal guia, e menos ainda a oportunidade de compartilhar o calor e a sabedoria no coração de uma companhia, coven ou clã reunidos. E assim, são os livros, elaborados com dedicação, discernimento e experiência e que apontam o caminho para a auto-navegação entre os ganchos e trapaças do caminho da Bruxa Tradicional, que muitos recorrem em busca da verdadeira orientação.

O buscador encontrará tal orientação nestas mesmas páginas, pois Kelden separa a vegetação espinhosa no degrau e convida a aspirante à bruxa a atravessar e explorar os caminhos que levam ao coração da Arte Antiga. Aqui estão caminhos cuidadosamente mediados de trabalho interno para forjar e temperar; do poder e seu emprego; de elaborar e consagrar as ferramentas da arte onde a força, o simbolismo e a forma se unem; dos rito e cerimônias da bruxaria; e das magias operativas da astúcia, da elaboração de encantos e do trabalho de feitiços. Aqui também são transmitidos caminhos para os mistérios do familiar e do buscador e para forjar uma relação de trabalho com os Antigos, o mundo espiritual e a terra.

Como alguém cuja formação na Arte surge de correntes mistas, saúdo este livro também por sua revigorante ausência de escárnio ao discutir outras formas da Arte. Como Cecil Williamson escreveu certa vez: “Aqueles que praticam bruxaria são, em geral, um grupo dividido, cada um chamando de peixes fedorentos os métodos dos outros grupos”. 1 Tal característica há muito tem atormentado a Arte pós-renascimento. No entanto, nos escritos de Kelden há o reconhecimento do fato de que todos os ramos da Arte se estendem em direções diferentes, todos a partir de um tronco antigo, nodoso e retorcido, ele próprio surgindo de raízes emaranhadas na profundidade.

Para aqueles atraídos pelo ramo de muitos dedos da Bruxaria Tradicional e pelas artes vivas da Bruxa, da mulher sábia e do homem astuto, aqui se revela o sempre revelador, sempre oculto, caminho serpentino do Caminho Tortuoso. —Gemma Gary Julho de 2019.

[conteúdo]

1. Kerriann Gowdin, ed., The Museum of Witchcraft: A Magical History (Bodmin, Reino Unido: The Occult Art Company and the Friends of the Bodcastle Museum of Witchcraft, 2011), 18.

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