
Azoetia
Por Andrew D. Chumbley. Tradução de Ícaro Aron Soares, @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.
A Edição de Sethos
Sendo uma transcrição completa e precisa, compilada e alterada pelo autor do manuscrito original do ‘Livro da Quintessência Mágica.’
Para SETHOS, o Daimon da Luz! Meu Bom Magistellus, cuja oportunidade chegou novamente… de tecer o Feitiço de Qhalar através e além desta Gramática de Zod-A, sim, de pronunciar os Feitiços que não pertencem ao Homem Mortal!
Ó Sethos! Levante-se e lembre-se! Lembre-se da Promessa uma vez manchada de vermelho sobre a poeira primordial da Terra!
Pelo latido do cão e pelo raio da lua, pela lanterna, pelo cajado e pela pedra vertical Venha sondar as alturas estreladas do Céu no Velho Poço de Orvalho de Caim.
Venha circular o sangue com a Serpente, Venha virar a pele do tempo, venha passear pelo cadáver de Abel, aqui quebre o Destino do Homem Mortal!
Aqui lance as Visões de Ontem, de Amanhã, até Hoje. Abra aqui a Via para o Caminho Tortuoso, para que o Caminho exista para sempre!
Ó Sethos! Levante-se e lembre-se: Até que Teu Homônimo, o Homem da Luz, nasça!
INTRODUÇÃO À EDIÇÃO DE SETHOS
Para um livro como este – um Grimório dos Mistérios Sabáticos – não há introdução melhor do que a afinidade direta do coração com o Caminho Mágico. Não há nenhum gesto simples, nenhuma mera reverência e movimento da mão literária, que possa ser suficiente para acenar e conduzir o investigador dentro do recinto da Arte Real. Tudo o que é verdadeiramente necessário para introduzir o aspirante a este trabalho é o parentesco inato entre as almas, pois só então o portão para esta Árvore da Feitiçaria se abrirá, só então a porta para este Éden Noturno será considerada uma entrada de boas-vindas.
Para aqueles companheiros e mulheres com quem existe um verdadeiro parentesco na Arte, tenho algumas palavras pessoais a transmitir sobre a natureza da Quintessência Mágica – a ipseidade do próprio Caminho e exatamente aquilo que este presente trabalho pretende transmitir. Meu conselho sincero é este: A Quintessência da Magia não pode ser encontrada pela combinação de elementos externos, mas apenas pela realização direta de sua fonte inata. Não deve ser descoberta combinando sistema com sistema, crença com crença, ou prática com prática; ela não é encontrada pela união dos “elementos” em suas formas temporalmente manifestas. Pois além do Exterior, além das manifestações dualísticas e substantivas de elemento e elemento, a Quintessência já foi alcançada. Sua unidade é constante como natureza primordial e intrínseca do Ser Feiticeiro; sua realização é exatamente essa realização. Quando este Mistério é compreendido, o segredo do Azoth é revelado de verdade. O processo alquímico de encontrar o Ouro Potável através da dissolução e unificação de toda a Matéria será visto como o espetáculo do Espírito alcançando o autoconhecimento através de suas próprias permutações do Devir, o jogo de amor místico de Tudo será visto com a visão única tanto do Amante quanto do Amado.
A Quintessência deve ser sabiamente conhecida como a Monâda indivisível da própria Magia, a semente da gnose primordial que é inerente à entidade do Mago. A partir dessa unidirecionalidade inefável – o coração único da autounidade do Mago – os braços da cruz elementar se estendem por todo o universo: os incontáveis caminhos de sistemas, crenças e práticas se projetam e se manifestam. Quando a Quintessência é assim conhecida, o olho secreto do Conhecedor pode contemplar o seu poder penetrando nos diversos e nos muitos; o ethos inescrutável que dirige os seus inúmeros desvios de expressão pode então ser reconhecido, onde quer que tais caminhos se desviem. Aqueles que possuem este arcano são livres para vagar pelos inúmeros reinos da Mente e da Matéria, para usar a linguagem e a vestimenta de qualquer terra ou época que habitem. Pois quando a essência é conhecida, toda substância é percebida como seu veículo.
Por extensão às alquimias físicas e minerais, o Arcano da Quintessência Mágica pode ser entendido como a compreensão direta da fonte que informa, sustenta e vitaliza todos os elementos do Manifesto. Assim, por aqueles adeptos da alquimia que dissolvem e combinam elemento dentro de elemento, este conselho do coração pode ser aplicado como um meio sutil para contemplar a forma e o caráter manifestos como as modalidades do poder único que toda e qualquer substância mantém em hipoestado. Além disso, nosso arcano pode ser articulado e entendido como a chave espiritual que permite que cada passo e marca no Caminho produza sua voz, seus oráculos de espírito, e assim conceda os meios diretos de comunhão entre o Mago Viajante e os Deuses do Lugar. Em razão deste entendimento, afirma-se que Nós que defendemos a Arte Real, os Membros de Sangue Sábio do Culto Ancião, nos mantemos fiéis a um único credo onde e quando quer que estejamos: a chamada “Fé sob os Saltos de andarilho”. Assim como nosso Ancestral Caim, o Primogênito da Arte, vagueia em exílio perpétuo, nós também; e em cada um de nossos passos únicos reside a plenitude do Éden, puro desde o início, constante em autorrevelação: o reino manifesto da Quintessência Mágica.
Para falar mais diretamente sobre o Azoetia em si… Desde a sua publicação original em maio de 1992, muitas pessoas têm perguntado sobre sua história mundana, sua inspiração pessoal e sua localização dentro de todo o contexto das Tradições Mágicas e Iniciáticas. Para um livro como este, um tomo do Culto ao Ancião e dos arcanos sussurrados em sonhos, não existe uma história simples ou única e direta.
Em sua concepção inicial, Azoetia pretendia revelar o Grande Grimório – tornar manifesto o formulário mítico da Arte Mágica que todos os outros grimórios e enquiridios parecem velar e ocultar. Mas, em si, este livro é apenas mais um véu – embora talvez esteja um pouco mais próximo do adytum. E assim, se os Deuses quiserem, é um Véu de Proteção para todos aqueles com aspirações verdadeiras – uma iconostase de Palavra e Imagem através da qual o raio luminoso da Iniciação pode brilhar, perfurando para inflamar o coração bem testado do Buscador.
Também se pretendia que o Azoetia fosse uma base mágica pessoal – uma primeira exposição magistral que encapsulasse a soma das conquistas da Feitiçaria até agora alcançadas no período desde o meu nascimento até a idade adulta, e cristalizada através da apoteose da iniciação formal no Caminho Sabático. Assim, ao incorporar uma Visão Iniciática da Arte Mágica recém-nascida a partir do feito da Transmissão do Sangue Bruxo, pretendia-se que este Grimório estabelecesse uma recensão abrangente da Tradição Sabática da Arte – para assim reificar o Poder transmitido como Conhecimento: elevar a Fortaleza como um Livro de Arte. Em termos do primeiro aspecto da intenção, é pertinente afirmar que, ao produzir esta nova edição, procurei manter a integridade e a ingenuidade juvenil do original, permitindo, no entanto, alterações refinadas para fazer maior justiça ao nível de percepção incorporado pela obra em sua concepção inicial. Além disso, onde os sonhos surgiram durante o processo de revisão, os seus conselhos foram atendidos. Em todos os casos, todo esse trabalho permaneceu sob a orientação e tutela do espírito patrono do Grimório. Ao levar o nome de seu Daimon, esta presente edição permite ao leitor um caminho mais direto de compreensão dos mistérios da feitiçaria azoética.
Em termos desta última intenção, de estabelecer uma recensão da Arte Sabática, há uma história literal que poderia ser contada, uma genealogia de iniciações formais que poderia ser recontada: um caminho de hereditariedade espiritual revelando uma continuidade linear de praticante para praticante, geração após geração. Esta história pode, em primeiro lugar, ser contada a partir da memória viva, da experiência direta minha e de outros iniciados. Em segundo lugar, a partir do ponto onde os vivos encontram os mortos, esta história pode ser contada através da tradição oral – a partir dos relatos frequentemente repetidos de antigos Mestres e Mestras da Arte. Indo além da memória viva e da tradição oral, esta história finalmente se funde com o tempo mítico – vai além – até a Hora Desconhecida da Bruxaria: o momento da ‘Meia-Noite Verdadeira’ fora dos limites de toda temporalidade. Este ponto místico do tempo é a maior fonte do caminho mágico, é sempre iminente para realização em cada segundo fugaz. Embora histórias e genealogias possam ser contadas, quem realmente busca entrar no Caminho deve passar pela fronteira liminar do Ontem e do Amanhã. O momento presente deve ser percebido como a raiz do empoderamento.
As práticas de minhas linhagens particulares e de outras Tradições da Astúcia mudam de pessoa para pessoa e de época para época, adaptando-se conforme necessário ou inspirado. Desviando-se através das gerações, o caminho é direcionado de acordo com a mudança dos seus guardiões. No entanto, o seu poder reside no seu próprio tempo, nem no passado nem no futuro, mas perpetuamente no momento. Ao casar o que é aprendido e transmitido com o que surge da inspiração pessoal, cada praticante estabelece a sua recensão única. À medida que o tempo passa, o mesmo acontece com a autoconsciência da linhagem: ela se torna sábia em relação às suas próprias transformações alquímicas. Nesta presente recensão do Caminho é exposta uma Feitiçaria Transcendental, um meio de prática por meio do qual as técnicas humildes, mas potentes, de feitiços – os encantos da ‘pedra de bruxa, corda com nós e garrafa de bruxa’ de tempos imemoriais – são usadas para casar o pragmatismo terreno da Necessidade com a aspiração sideral do Místico.
Tendo em mente estas poucas palavras de conselho e relato, que o aspirante apodere-se da Quintessência que reside dentro dele. Com esta semente única de gnose no coração, receba então com ambas as mãos tudo o que aqui é transmitido. Assim fortalecido com essência e preparado com substância, que agora o Caminho torne-se seu! Se você chamar os Deuses e eles responderem, quem poderá se opor ou desafiar a integridade do seu Caminho?
Alogos Dhu’l-qarnen Khidir
Andrew D. Chumbley.
Magister: Cultus Sabbati.
Dia de Todos os Santos, 6006 Ano Lucis
PREFÁCIO À EDIÇÃO ORIGINAL
O Azoetia (ou Livro da Quintessência Mágica) é um Grimório, ou seja, uma Gramática da Arte Mágica, e como tal foi escrito especificamente pensando no estudante sério. No entanto, o verdadeiro texto da Azoetia não é o livro que você está segurando atualmente, este é apenas um meio visível pelo qual a Gramática Invisível e Quintessencial da Magia pode ser lida.
Em certo sentido, estou sobrecarregado com a culpa de revelar aquilo que é considerado secreto por alguns, e ainda assim estou sobrecarregado com uma culpa maior – a da minha própria inadequação para articular toda a Gramática da Magia em termos comunicáveis. Isto por si só é talvez uma tarefa impossível, uma vez que o assunto é mais refinado que o meio de sua comunicação; a linguística mundana é suficiente apenas para aproximar aquilo que, por sua própria natureza, só pode ser inferido sutilmente.
Grande parte deste livro é obscura, mesmo para aqueles familiarizados com o assunto, e eu aconselharia o leitor a estudá-lo no contexto de toda a tradição da Magia e então aplicá-lo dentro de seu próprio campo particular; pois tem sido meu esforço definir aqueles Princípios subjacentes aos muitos caminhos diferentes da Magia e unificá-los dentro de um único corpo de um grimório funcional.
Ao escrever este livro, inspirei-me em sonhos visionários, que por sua vez foram inspirados em meu estudo e prática de Magia ao longo de vários anos; e assim pode-se dizer que este Grimório é, em si, a reificação da corrente iniciadora que inspira a busca do Caminho Mágico – ele incorpora as Visões Sagradas da Arte conforme vivenciadas por um praticante tradicional e, portanto, é a Verdade Viva da Magia.
Todas as correntes da Magia fluem de uma única fonte e eu, ao extrair este Grimório dos meus Sonhos, enchi uma taça de uma fonte pura. É certo que todas as correntes são adaptadas pelo canal através do qual passam e meu trabalho foi influenciado por muitas tradições e autoridades do ocultismo, mas mesmo assim, ao articular a Magia como sonhei, estou manifestando sua Unidade Indivisível da melhor maneira possível.
Este livro é uma gramática da alta feitiçaria; não deve ser lido ou interpretado de uma maneira única e direta, mas antes deve ser conlomplificado e visto como uma joia multifacetada, refratando e refletindo a luz de uma estrela solitária. Essa estrela queima com a própria magia; não deve ser amarrada a dissertações não poéticas sobre mistérios carregados de poeira, mas deve ser vista como uma fonte de poder, a ser exaltada e refinada através da Arte Divina. Tratar este poder de forma injusta ou imprudente é queimar os dedos, se não a alma. Não é de brincadeira que digo: o homem pode acender as chamas do Sol que o nutrirá ou do Inferno que o consumirá. Esperemos que o tolo comum não tenha paciência suficiente para acender esta pira.
AQUI COMEÇA O GRIMÓRIO AZOETIA
PROÊMIO: O SABÁ
No Espelho do Sonho Único que é o Oráculo das Visões, Infernal e Divino, preso ao Ourobouros, eu contemplei a dança circular da Eternidade – chamada de ‘Natureza’ – Cujos Padrões revelaram os Mitos Sagrados do Homem E dentro da Fronteira da Imortalidade eu dancei, De mãos dadas com todos os Adorados do Homem – Com cada Deus e Deusa reverenciados por Nossa Mortalidade; Sim, eu conheci seu toque e visão, em conclaves de carnalidade abençoada. Sim, eu dancei pelas profundezas proibidas da Noite na Congregação Arcana do Coven dos Sangues-Bruxos.
E dentro do Núcleo Ardente do Espírito, dentro do Fogo do Coração do Círculo – Aquela primeira chama diante do olhar dos Vigilantes – eu contemplei a Própria Face de Mim, Que falava da Feitiçaria Primordial.
Ela falou comigo e me encantou, E me conduziu através da brecha do Fogo, E me deu nome e me jurou: A Arte do Sabá, aprender, ensinar.
Assim eu contemplei o Supremo Sabá das Eras – o Arquétipo de todos as Espécies e Práticas da Arte Mágica, cuja Arte é a da Feitiçaria Aperfeiçoada – por meio da qual Nossa Forma Mortal se torna a Verdade Viva de Nossa Totalidade.
Pelo Sabá das Bruxas – Empírea e Infernal – vinculado ao Círculo Único Terrestre da Arte que está além de todo o Tempo e ainda assim é o Eterno Agora. Atualmente realizamos nos Ritos Sagrados e nos Mistérios de Iniciação os Arcanos Quintessenciais de toda Magia; e em nossa Celebração desses Segredos nos tornaremos sua própria Incorporação: a Feitiçaria Primordial Encarnada.
PRECE
Todos, ocultem e nunca revelem
O Caminho está preparado: – O Corpo de Carne é limpo e ungido. A Mente é purificada pela Santa Contemplação. Todo Pensamento é controlado pela Força da Vontade. O Espírito é purificado pelo Encantamento do Sangue Bruxo e é santificado pela Devoção. Através da Unicidade da Vontade, do Desejo e da Crença, todo o Ser é direcionado para o Arcano de Mim.
Pelos Ritos de Entrada o Caminho é aberto e os Poderes são convocados. Pelos Ritos de Congresso, O Convocador e o Convocado tornam-se Um. Pelos Ritos de Egresso, O Feiticeiro sai pelo Portão do Caminho Aberto -. Ele está livre de todas as Circunstâncias.
Pelos Três Ritos e pelas Fórmulas das Onze Células do Azoth, Todos os Poderes da Natureza, todos os Estados Passados e Futuros – os Milhões-de-Formas-do-Ser, sejam assim Encarnados no Corpo Atual do Artista Divino.
Tudo o que é Existente seja morto neste Encantamento – para que em Mim, Toda a Natureza possa ser focada e a Gnose Arcana, que é de toda a Verdade, possa ser incorporada: o Grimório Único, que é de toda Magia o Princípio e o Fim. Por este Feitiço, Tua Totalidade é inferida e neste Instante apreendida para sempre… o Sonho Primordial é reificado: o Supremo Sabá das Eras.
SOBRE O TRADUTOR
Ícaro Aron Soares, é colaborador fixo do PanDaemonAeon e administrador da Conhecimentos Proibidos e da Magia Sinistra. Siga ele no Instagram em @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.
ORIGINAL
https://magiasinistra.wordpress.com/2024/03/02/azoetia-a-grimoire-of-the-sabbatic-craft/