
Via Sangris
Por Tau To Ba’al, Tradução por Lotan, Revista Anticósmica. Revisão de Ícaro Aron Soares, @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.
A primeira emanação do Absoluto é um princípio feminino, diferentemente mencionado como Pensamento, Providência, Pensamento Prévio ou Pré-Conhecimento (em grego, todas estas palavras têm gênero feminino), e “Barbelo”, que em Thelema é Babalon. A cosmologia gnóstica apresenta o princípio criador feminino em um duplo papel; o princípio mais elevado sendo Barbelo e o princípio inferior sendo Sofia, a Nuit em Thelema que é o próprio Universo. Como no Apócrifo de João, Barbelo é a primeira emanação. Um trecho do quinto verso desse importante texto gnóstico apresenta esse conceito.
Ela é o Pensamento do Todo (Protenoia) – a luz dela brilha como a luz Dele – o poder perfeito, que é a imagem do Espírito puro, invisível, e perfeito. É o primeiro poder, a glória de Barbelo, a glória perfeita nos aeons, a glória da revelação. Ela glorificou o Espírito puro, e foi ela quem o saudou, porque graças a ele, ela havia surgido. Este é o primeiro pensamento, a imagem Dele; ela se tornou o útero de tudo, pois ela que é anterior a todos eles, ela é a Mãe-Pai, o Primeiro Homem, o Espírito sagrado, os três-vezes-macho, os três-vezes-poderosos, o andrógino três-vezes-nomeado, o aeon eterno entre os invisíveis, e o primeiro a vir.
O sexto verso:
Ela pediu para que o Espírito puro invisível a desse previsão. E o Espírito consentiu. E quando ele havia consentido, a previsão veio, e ficou ao lado da presciência; esta origina do pensamento do Espírito puro invisível. A previsão glorificou o Espírito e Barbelo (o poder perfeito dele), porque foi por ela que ele tinha surgido.
Barbelo faz parte de um sizígia com o Logos, sugerindo o Adam Kadmon, como um ser andrógino. O sétimo verso sete esta ideia, como também apresenta isto como a divindade preparada para a sua involução:
E olhou para Barbelo com a luz pura que envolve o Espírito invisível e com sua centelha. E ela concebeu dele. Ele gerou uma centelha de luz possuindo bem-aventurança. Mas que não o iguala em grandeza. Esta foi uma criança unigênita da Mãe-Pai que tinha vindo; é o fruto único, o unigênito do Pai. A Luz pura.
E o Espírito puro invisível se alegrou pela luz que veio, que surgiu pelo primeiro poder da presciência dele, que é Barbelo. E ele a ungiu com sua bondade até que se tornasse perfeita, não carecendo de qualquer valor, porque ele tinha ungido com a bondade do Espírito invisível. E ela (a luz) o auxiliou quando ele derramou sobre ela. E imediatamente, quando a luz tinha recebido do Espírito, ela glorificou o Espírito sagrado e a presciência perfeita, pela qual ela tinha vindo. E ela pediu que lhe desse um ajudante, que é a mente, e ele consentiu alegremente. E quando o Espírito havia consentido, a mente veio glorificando ele e Barbelo. E todos estes surgiram no silêncio.
A cosmogonia muda no Evangelho dos Egípcios. Este primeiro trecho, no início do texto, oferece- nos algo da natureza virginal de Barbelo similar ao aspecto de Babalon. Aqui, parece quase como se os dois nomes estivessem juntos em um só nome: Barbelon.
O segundo poder da ogdóada, a Mãe, a Barbelon virginal, […] epititioch, memeneaimen […], que preside o céu, karb[…], o poder ininterpretável, a Mãe inefável. Ela se originou de si mesma […]; ela surgiu; ela concordou com o pai do silêncio.
Mas mais adiante no texto, enquanto o Setianismo está descrevendo sua doutrina escatológica, Barbelon é apresentado como um homem, insinuando para nós que isto é alguma forma de ofício angélico, em vez de um ser mítico.
Então o grande Set deu louvores ao grande Espírito virginal, e ao macho Barbelon virgem, a virgem masculina Youel, e Esefech, o portador da glória e da coroa de sua glória, e o grande Doxomedon-Aeon, e os tronos que estão nele, e os poderes que os cercam, e todo o pleroma. E ele pediu vigilantes para sua semente. Então vieram dos grandes aeons quatrocentos guerreiros etéreos, acompanhados pelo grande Aerosiel e o grande Selmechel, para guardar a grande e incorruptível raça, seus frutos e os grandes homens de Set, do tempo e do momento final da Verdade e Justiça, até a consumação do aeon e seus arcontes, aqueles que os grandes juízes condenaram à morte.
Aqui é criada uma escatologia onde a confusão da linguagem (o Logos) é algo a ser corrigido, pois essas forças de conflito (Arcontes) trabalham contra a “Verdade e Justiça” que está no coração da Manifestação de Sagitário. Portanto, Set é o Salvador que preservará o Dharma, como Krishna no Bhagavad-Gita.
Podemos, então, imaginar os Arcontes como o que chamamos hoje, em Thelema, os adeptos da Escola Negra de Magia, naturalmente, sendo os Aeons aquelas frações da Escola Branca. O livro é então concluído com uma referência a Barbelon, que sugere novamente essa comparação e até como consorte de Sofia ou algo que emana dela.
O grande Set escreveu este livro com cartas durante cento e trinta anos. Ele o colocou na montanha que é chamada de ‘Caráxio’, a fim de que, no final dos tempos e das épocas, pela vontade do divino Autógenes e todo o pleroma, através do dom do amor paternal, impenetrável e impensável, possa surgir e revelar esta raça incorruptível e santa do grande salvador, e aqueles que habitam com eles em amor, e o grande, invisível e eterno Espírito, e seu Filho unigênito, e a luz eterna, e sua grande e incorruptível consorte e a incorruptível Sofia, e o Barbelon, e todo o pleroma na eternidade.
SOBRE O REVISOR
Ícaro Aron Soares, é colaborador fixo do PanDaemonAeon e administrador da Conhecimentos Proibidos e da Magia Sinistra. Siga ele no Instagram em @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.