Bhagavad-Gita: Karma-Yoga – Ação em Consciência de Krishna (Capítulo 5)

Bhagavad-Gita Como Ele É, Capítulo 5

Por Srila Prabhupada, Primeira Edição, 1976. Revisão de Ícaro Aron Soares.

VERSO 01: Arjuna disse : Ó Krishna, primeiro Você me pede que renuncie ao trabalho, e depois de novo me recomenda o trabalho com devoção. Agora, por favor, Você pode me dizer definitivamente qual das duas coisas é mais benéfica?

VERSO 02: O Bem-aventurado Senhor disse: A renúncia ao trabalho e o trabalho em devoção são ambos bons para a liberação. Mas dos dois, o trabalho em serviço devocional é melhor do que a renúncia ao trabalho.

VERSO 03: A pessoa que não odeia nem deseja os frutos de suas atividades é conhecida como sempre renunciada. Tal pessoa, liberada de todas as dualidades, supera facilmente o cativeiro material e é completamente liberada, ó Arjuna de braços poderosos.

VERSO 04: Só os ignorantes falam que karma-yoga e serviço devocional são diferentes do estudo analítico do mundo material (sãnkhya). Os que são realmente eruditos dizem que se aplicando bem em um desses caminhos, a pessoa logra os resultados de ambos.

VERSO 05: A pessoa que sabe que a posição alcançada por meio da renúncia pode ser alcançada também através de trabalhos em serviço devocional e que portanto vê que o caminho da devoção e o caminho da renúncia são iguais, vê as coisas como elas são.

VERSO 06: A menos que se ocupe no serviço devocional do Senhor, a mera renúncia das atividades não pode fazer uma pessoa feliz. Os sábios, purificados por trabalhos de devoção, alcançam o Supremo sem demora.

Aquele que se aplica bem a um desses caminhos alcança os resultados de ambos.

ILUSTRAÇÃO DEZENOVE: Krishna diz: “A pessoa que sabe que a posição alcançada por meio da renúncia pode ser alcançada também através de trabalho em serviço devocional. vê as coisas como elas são.” Acima um devoto se ocupa em atividades devocionais, adora a Deidade e canta os santos nomes, enquanto que o yogi se ocupa em severas penitências, meditação e no estudo analítico do espírito e da matéria. Porém, a meditação do yogi, quando amadurecer resulta na realização de Krishna, que o devoto já entendia. Nesse momento o yogi em êxtase se une ao devoto para glorificar e adorar a Verdade Absoluta. Um processo (yoga ou sankhya) é encontrar a raiz da árvore, e o seguinte (devoção ou bhakti) é regar a raiz. Desse modo Krishna diz: “Os que são realmente eruditos dizem que se aplicando bem em um desses caminhos, a pessoa logra o resultado de ambos.” (Veja Capítulo 5, Versos 4-6).

VERSO 07: A pessoa que trabalha com devoção, que é uma alma pura e que controla sua mente e sentidos, é querida por todos, e todos são queridos por ela. Embora sempre trabalhe, tal homem nunca se envolve.

VERSOS 08-09: Embora se ocupe em ver, ouvir, tocar, cheirar, comer, movimentar-se, dormir e respirar, uma pessoa na consciência divina sabe sempre dentro de si que na realidade não faz absolutamente nada. Porque enquanto fala, evacua, recebe, abre ou fecha seus olhos, ela sempre sabe que somente os sentidos materiais se ocupam com seus objetos e que ela está à parte deles.

VERSO 10: A pessoa que executa seu dever sem apego, entregando os resultados ao Deus Supremo, não se afeta pela ação pecaminosa, assim como a folha de lótus não é tocada pela água.

VERSO 11: Os yogis, abandonando o apego, agem com o corpo, mente, inteligência e até com os sentidos, unicamente com o propósito de purificar-se.

VERSO 12: A alma firmemente devotada alcança paz inadulterada porque Me oferece o resultado de todas as atividades; enquanto que uma pessoa que não está em união com o Divino, que cobiça os frutos de seu trabalho, se enreda.

VERSO 13: Quando o ser vivo corporificado controla sua natureza e renuncia mentalmente a todas as ações, ele habita alegremente na cidade de nove portões (o corpo material), sem trabalhar nem causar que se execute trabalho.

VERSO 14: O espírito corporificado, mestre da cidade de seu corpo, não cria atividades, não induz as pessoas a agirem nem cria os frutos da ação. Tudo isto se desenvolve pelos modos da natureza material.

VERSO 15: Nem tampouco o Espírito Supremo assume as atividades pecaminosas ou piedosas de ninguém. Entretanto, os seres corporificados estão confusos por causa da ignorância que encobre seu conhecimento verdadeiro.

VERSO 16: Quando, porém, uma pessoa é iluminada com o conhecimento pelo qual a nescidade é destruída, então seu conhecimento revela tudo, assim como o sol ilumina tudo durante o dia.

VERSO 17: Quando a inteligência, a mente, a fé e o refúgio de uma pessoa estão todos fixos no Supremo, então a pessoa se purifica completamente de todos os receios através do conhecimento completo e desse modo procede sem desvio no caminho da liberação.

VERSO 18: O sábio humilde, em virtude do conhecimento verdadeiro, vê com visão de igualdade um brahmana aprazível e erudito, uma vaca, um elefante, um cachorro e um comedor de cachorro (pária).

O sábio humilde vê com igual visão.

ILUSTRAÇÃO VINTE: “O sábio humilde, em virtude do conhecimento verdadeiro, vê com visão de igualdade um brahmana aprazível e erudito, uma vaca, um elefante, um cachorro e um comedor de cachorro (pária).” Uma pessoa consciente de Krishna não faz nenhuma distinção entre espécies ou castas. E isto porque em cada espécie de vida ela vê o Senhor Supremo que, através de Sua porção plenária, está presente dentro do coração de toda entidade viva. A Superalma está presente em todos os corpos sem distinção. (Veja Capítulo 5, Verso 18).

VERSO 19: Aqueles cujas mentes estão estabelecidas na igualdade e na equanimidade já conquistaram as condições de nascimento e morte. Eles são perfeitos como o Brahman, e desse modo já estão situados em Brahman.

VERSO 20: Uma pessoa que não se regozija por alcançar algo agradável nem se lamenta por obter algo desagradável, que é inteligente por si só, não se confunde e que conhece a ciência de Deus, deve ser considerada como já situada na Transcendência.

VERSO 21: Tal pessoa liberada não se atrai pelo prazer material dos sentidos nem pelos objetos externos mas está sempre em transe, gozando o prazer interno. Desse modo a pessoa autorrealizada goza de felicidade ilimitada, pois se concentra no Supremo.

VERSO 22: Uma pessoa inteligente não participa das fontes da miséria, que se devem ao contato com os sentidos materiais. O filho de Kunti, tais prazeres têm um começo e um fim, e dessa maneira o homem sábio não se deleita neles.

VERSO 23: Antes de abandonar este presente corpo, se a pessoa é capaz de tolerar os impulsos dos sentidos materiais e controlar a força do desejo e da ira, ela é um yogi e é feliz neste mundo.

VERSO 24: A pessoa cuja felicidade é interna, que é ativa dentro de si, que se regozija e está iluminada dentro de si, é na realidade o místico perfeito. Ela está liberada no Supremo, e no fim alcança o Supremo.

VERSO 25: A pessoa que está além da dualidade e da dúvida, cuja mente está ocupada dentro de si mesma, que está sempre ocupada trabalhando para o bem-estar de todos os seres vivos, e que está livre de todos os pecados, alcança a liberação no Supremo.

VERSO 26: Para aqueles que estão livres da ira e de todos os desejos materiais, que são autorrealizados, autodisciplinados e se esforçam constantemente pela perfeição, a liberação no Supremo está assegurada num futuro muito próximo.

VERSOS 27-28: Excluindo todos os objetos externos dos sentidos, mantendo os olhos e visão concentrados entre as duas sobrancelhas, suspendendo os alentos que entram e que saem dentro das narinas – controlando assim a mente, sentidos e inteligência, o transcendentalista se liberta do desejo, do medo e· da ira. Aquele que está sempre neste estado certamente está liberado.

VERSO 29: Os sábios, conhecendo-Me como o beneficiário último de todos os sacrifícios e austeridades, o Senhor Supremo de todos os planetas e semideuses e o benfeitor e bem-querente de todas as entidades vivas, alcançam a paz das dores das misérias materiais.

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