
Bhagavad-Gita Como Ele É, Capítulo 6
Por Srila Prabhupada, Primeira Edição, 1976. Revisão de Ícaro Aron Soares.
VERSO 01: O Bem-aventurado Senhor disse: Aquele que está desapegado dos frutos de seu trabalho e que trabalha de acordo com sua obrigação, está na ordem renunciada da vida, e é o verdadeiro místico: não aquele que não acende nenhum fogo nem executa nenhum trabalho.
VERSO 02: O que se denomina renúncia é o mesmo que yoga, ou estabelecer o elo com o Supremo, pois ninguém pode se converter num yogi se não renuncia ao desejo de gratificação dos sentidos.
VERSO 03: Para aquele que é um neófito no sistema óctuplo de yoga, diz-se que o trabalho é o meio; e para quem já alcançou a yoga, a cessação de todas as atividades materiais é considerada o meio.
VERSO 04: Diz-se que uma pessoa alcançou a yoga quando, tendo renunciado a todos os desejos materiais, ela não age para gratificação dos sentidos nem se ocupa em atividades fruitivas.
VERSO 05: Um homem deve se elevar com sua própria mente, e não se degradar. A mente é o amigo da alma condicionada, e seu inimigo também.
VERSO 06: Para aquele que conquistou a mente, ela é o melhor dos amigos; mas para a pessoa que fracassou em fazê-lo, sua própria mente será seu pior inimigo.
VERSO 07: Aquele que conquistou a mente, já alcançou a Superalma, pois logrou a tranquilidade. Para tal homem felicidade e tristeza, calor e frio, honra e desonra são todos o mesmo.
VERSO 08: Diz-se que uma pessoa está estabelecida em auto-realização e é chamada um yogi (ou místico) quando está plenamente satisfeita em virtude do conhecimento e da realização adquiridos. Tal pessoa está situada em transcendência e é auto-controlada. Ela vê tudo – sejam” seixos, pedras ou ouro – igualmente.
VERSO 09: Diz-se que uma pessoa é ainda mais avançada quando ela considera todos – o bem-querente honesto, amigos e inimigos, o invejoso, o piedoso, o pecador e aqueles que são indiferentes e imparciais – com uma mente equânime.
VERSO 10: Um transcendentalista deve tentar sempre concentrar sua mente no Eu Supremo ; deve viver sozinho em um lugar isolado e sempre controlar cuidadosamente a sua mente. Ele deve estar livre de desejos e sentimentos de posse.
VERSOS 11-12: Para praticar yoga, a pessoa deve ir a um lugar isolado, colocar grama kusa no chão e então cobri-la com uma pele de veado e um tecido macio. O assento não deve nem ser muito alto nem muito baixo e deve estar situado num lugar sagrado. O yogi deve então sentar-se muito firmemente e praticar yoga, controlando a mente e os sentidos, purificando o coração e fixando a mente em um ponto.
VERSOS 13-14: A pessoa deve manter seu corpo, pescoço e cabeça eretos numa linha reta e olhar fixamente para a ponta do nariz. Desse modo, com uma mente subjugada, não agitada, desprovida de medo, completamente livre da vida sexual, a pessoa deve meditar em Mim dentro do coração e fazer de Mim a meta última da vida.

“Deve-se meditar em Mim dentro do coração e fazer de Mim o objetivo final da vida.”
ILUSTRAÇÃO VINTE E UM: “Para praticar yoga, a pessoa deve ir a um lugar isolado, colocar grama kusa no chão, então cobri-la com uma pele de veado e um tecido macio. O assento não deve nem ser muito alto nem muito baixo e deve estar situado num lugar sagrado. O Yogi deve então sentar muito firmemente e praticar yoga controlando a mente e os sentidos. purificando o coração e fixando a mente em um ponto. A pessoa deve manter seu corpo, pescoço e cabeça eretos numa linha reta e olhar fixamente para a ponta do nariz. Desse modo, com uma mente subjugada, não agitada, desprovida de medo e completamente livre da vida sexual, a pessoa deve meditar em Mim dentro do coração e fazer de Mim a meta última da vida.” (Veja Capítulo 6, Versos 11-14).
VERSO 15: Assim, praticando o controle do corpo, mente e atividades, o transcendentalista místico alcança o reino de Deus (ou a morada de Krishna) pela cessação da existência material.
VERSO 16: Não há possibilidade de uma pessoa tornar-se um yogi, ó Arjuna, se ela dorme em demasia ou se come muito pouco, se dorme em demasia ou se nüu dorme o suficiente.
VERSO 17: Aquele que é moderado em seus hábitos de comer, dormir, trabalhar e recreação pode mitigar todas as dores materiais praticando o sistema de yoga.
VERSO 18: Quando o yogi, pela prática de yoga, disciplina suas atividades mentais e se situa na Transcendência – desprovido de todos os desejos materiais – diz-se que ele alcançou a yoga.
VERSO 19: Assim como uma candeia não tremula num lugar sem vento, também o transcendentalista, cuja mente está controlada, permanece sempre fixo em sua meditação no Eu transcendental.
VERSOS 20-23: O estágio de perfeição se denomina transe, ou samadhi, quando a mente de uma pessoa se restringe completamente das atividades mentais materiais através da prática da yoga. Este estágio se caracteriza pela habilidade da pessoa de ver o eu com a mente pura, de saborear e regozijar-se no eu. Neste estado gozoso, a pessoa se situa em felicidade transcendental ilimitada e desfruta de si mesma através de sentidos transcendentais. Assim estabelecida, a pessoa nunca se desvia da verdade, e por ter conseguido isto ela acha que não há ganho maior. Estando situada em tal posição, ela nunca se agita, mesmo em meio à maior dificuldade. Esta é na realidade a verdadeira liberação de todas as misérias decorrentes do contato material.
VERSO 24: Uma pessoa deve ocupar-se na prática da yoga com fé e determinação indesviáveis. Deve abandonar, sem exceção, todos os desejos materiais nascidos do falso ego e desse modo controlar através da mente todos os sentidos em todos os lados.

Deve-se envolver na prática de yoga com determinação e fé inabaláveis.
ILUSTRAÇÃO VINTE E DOIS: Quanto à determinação, deve-se seguir o exemplo da pardoca que perdeu seus ovos nas ondas do oceano. Uma pardoca pôs seus ovos na orla do oceano, mas o grande oceano carregou os ovos em suas ondas. A pardoca ficou muito transtornada e pediu que o oceano restituísse seus ovos. O oceano nem mesmo considerou seu apelo. Então a pardoca decidiu secar o oceano. Ela começou a pegar água com seu pequeno bico e todos riam dela por causa de sua determinação impossível. A notícia de sua atividade se espalhou, e por fim Garuda, o pássaro gigante carregador do Senhor Vishnu, ouviu a notícia. Ele sentiu compaixão por sua pequena irmã pássaro e ficou muito satisfeito com sua determinação. Desse modo, Garuda imediatamente falou para o oceano restituir os ovos dela, senão ele próprio tomaria o trabalho da pardoca. O oceano se amedrontou com isso e restituiu os ovos. A pessoa necessita da mesma determinação da pardoca para praticar a bhakti-yoga. (Veja Capítulo 6, Verso 24).
VERSO 25: Gradualmente, passo a passo e com plena convicção, a pessoa deve se situar em transe por meio da inteligência, e desse modo deve fixar a mente unicamente no Eu e não pensar em mais nada.
VERSO 26: De qualquer coisa e de onde quer que a mente divague devido a sua natureza flutuante e instável, a pessoa certamente deve retirá-la e trazê-la de volta sob o controle do eu.
VERSO 27: O yogi cuja mente está fixa em Mim obtém em verdade a felicidade mais elevada. Em virtude de sua identidade com Brahman, ele se libera; sua mente está tranquila, suas paixões aquietadas e ele está livre de pecado.
VERSO 28: Fixo no Eu, estando livre de toda a contaminação material, o yogi alcança o estágio perfeccional mais elevado de felicidade em cnntato com a Consciência Suprema.
VERSO 29: Um yogi verdadeiro Me observa em todos os seres, e também vê todos os seres em Mim. Na verdade, o homem autorrealizado Me vê em toda parte.
VERSO 30: Para aquele que Me vê em toda parte e vê tudo em Mim, Eu nunca estou perdido, nem ele nunca está perdido para Mim.
VERSO 31: O yogi que sabe que Eu e a Superalma dentro de todas as criaturas somos um, Me adora e permanece sempre em Mim em todas as circunstâncias.
VERSO 32: Ó Arjuna, aquele que, através da comparação com seu prúprio eu, vê a igualdade verdadeira de todos os seres, tanto em sua (deles) felicidade quanto em seu sofrimento, é um yogi perfeito.
VERSO 33: Arjuna disse: Ó Madhusudana, o sistema de yoga que Você resumiu parece impraticável e insuportável para mim, pois a mente é inquieta e instável.
VERSO 34: Pois a mente, ó Krishna, é inquieta, turbulenta, obstinada e muito forte, e subjugá-la é, assim me parece, mais difícil que controlar o vento.

“A mente é inquieta, turbulenta, obstinada e muito forte, ó Krishna.”
ILUSTRAÇÃO VINTE E TRÊS: “A alma individual é um passageiro no carro do corpo material, e a inteligência é o condutor. A mente é o instrumento de direção e os sentidos são os cavalos. O eu é, desse modo, o desfrutador ou sofredor na associação da mente e dos sentidos. Assim o entendem os grandes pensadores.” Nesta ilustração os sentidos, estando descontrolados, arrastam a inteligência e o carro do corpo para o precipício, e a alma, o passageiro dentro do corpo, cai numa vida infernal. (Veja Capítulo 6. Verso 34)
VERSO 35: O Bem-aventurado Senhor disse: Ó filho de Kunti, de braços poderosos, é indubitavelmente muito difícil conter a mente inquieta, mas isto é possível pela prática constante e pelo desapego.
VERSO 36: Para aquele cuja mente está desenfreada, a autorrealização é um trabalho difícil. Mas aquele cuja mente está controlada e que se esforça pelo meio correto, tem o êxito assegurado. Esta é Minha opinião.
VERSO 37: Arjuna disse: Qual é o destino do homem de fé que não persevera, que no começo adota o processo da autorrealização mas depois desiste devido a sua mentalidade mundana e, dessa maneira, não alcança a perfeição no misticismo?
VERSO 38: Ó Krishna de braços poderosos, este homem que se desvia do caminho da Transcendência não fenece como uma nuvem fendida, sem nenhuma posição em nenhuma esfera?
VERSO 39: Esta é minha dúvida, ó Krishna, e eu Lhe peço que a dissipe completamente. Não há ninguém que possa destruir esta dúvida, exceto Você.
VERSO 40: O Bem-aventurado Senhor disse: Ó Filho de Prtha, um transcendentalista ocupado em atividades auspiciosas não se encontra com a destruição nem neste mundo nem no mundo espiritual; uma pessoa que faz o bem, Meu amigo, nunca é dominada pelo mal.
VERSO 41: O yogi fracassado, depois de muitos e muitos anos de gozo nos planetas das entidades vivas piedosas, nasce numa família de pessoas virtuosas, ou numa família de rica aristocracia.
VERSO 42: Ou então ele nasce numa família de transcendentalistas que seguramente têm grande sabedoria. Em verdade, um nascimento assim é raro neste mundo.
VERSO 43: Obtendo tal nascimento, ele revive novamente a consciência divina de sua vida anterior, e tenta progredir mais para alcançar o êxito completo, ó filho de Kuru.
VERSO 44: Em virtude da consciência divina de sua vida anterior, ele se torna automaticamente atraído pelos princípios ióguicos – mesmo sem buscá-los. Tal transcendentalista inquisitivo, esforçando-se pela yoga, está sempre acima dos princípios ritualísticos das escrituras.
VERSO 45: Mas quando o yogi se ocupa com esforço sincero em progredir ainda mais, lavando-se de todas as contaminações, então no final, depois de muitos e muitos nascimentos de prática, ele alcança a meta suprema.
VERSO 46: Um yogi é superior ao asceta, superior ao empirista e superior ao trabalhador fruitivo. Portanto, ó Arjuna, seja um yogi em todas as circunstâncias.
VERSO 47: E de todos os yogis, aquele que sempre se refugia em Mim com grande fé, adorando-Me com serviço transcendental amoroso, é o que está mais intimamente unido coMigo em yoga e é o mais elevado de todos.

“De todos os iogues, aquele que permanece em Mim com grande fé é o mais elevado de todos”
ILUSTRAÇÃO VINTE E QUATRO: “E de todos os yogis, aquele que sempre se refugia em Mim com grande fé, adorando-Me com serviço transcendental amoroso, é o que está mais intimamente unido coMigo em yoga e é o mais elevado de todos.” O yogi ideal concentra sua atenção em Krishna, que é chamado Syamasundara, que é tão belamente colorido como uma nuvem, cujo rosto como que lótus é tão refulgente como o sol, cuja roupa é brilhante com joias e cujo corpo é enfeitado com guirlandas de flores. Seu brilho deslumbrante que é denominado brahmajyoti ilumina todas as partes. Ele é o filho, o esposo, o amigo e mestre perfeitos, e Ele é pleno com todas as opulências e qualidades transcendentais. Se a pessoa permanece completamente consciente destes aspectos do Senhor, ela é considerada o yogi mais elevado. (Veja Capítulo 6, Verso 47)