Crowley, Satã e o Caminho Sinistro

Num certo sentido, o trabalho de Crowley tem sido dito ser uma restauração de vários mistérios ktônicos principalmente de origem Sumeriana. Assim a importância no culto da Thelema ligado a Set/Shaitan/Satã – uma tentativa de reintegrar dentro do consciente do indivíduo a dualidade representada pela fórmula LAShTAL.

De qualquer forma, apesar das muitas reinvidicações, Crowley não inaugurou um novo Aeon. Sua restauração é simplesmente a restauração de algo há muito morto – uma forma de necromancia, e como uma força mágica o culto de Thelema provavelmente não existe.

No sentido exotérico, ‘Shaitan’ representa aqueles níveis instintivos que são frequentemente, em nossa sociedade moderna, reprimidos no indivíduo – e rituais Satânicos tanto de um tipo tradicional quanto do tipo baseado no uso de fórmula sexual, são um meio de cartarse: um princípio onde a consciência é preparada e liberada das restrições implícitas na vida ordinária. Em termos práticos – e para a civilização do Ocidente a qual religião dominante e ethos tem atrapalhado, por sua distorção, tudo o que é natural em termos de sexo – isto frequentemente significa participação em rituais como aqueles dados no ‘Codex Saerus’ ou na Missa Gnóstica de Crowley ou algumas forma de trabalho sexual. Tal participação restaura o equilíbrio que frequentemente falta.

Ainda tal participação é apenas um começo – e as formas rituais de tal participação são apenas um meio. Eles são métodos para experimentar e se corretamente feitos providenciam ao indivíduo com um entendimento deste aspecto de sua personalidade que tem sido simbolizado como Satã (para homens) e Lilitu/Darkat (para mulheres) – o obscuro, sensual lado. Tal entendimento é pessoal no sentido de que a personalidade do indivíduo é envolvida, e a perspectiva adquirida é usalmente aquela da vida, ou Destino, do indivíduo em relação às suas circunstâncias e outros indivíduos. Isto é, há pouca preocupação com a apreciação das forças dum Aeon – exceto talvez algum vago entendimento ‘intelectual’: ou o que é tido como um entendimento.

Esta reintegração dos aspectos obscuros – seja ocorrido através de participação em rituais ou via outras técnicas de mágica – é representada, no sistema septenário, por estas três esferas da Árvore do Destino (Lua, Mercúrio e Vênus) e estas esferas simbolizam os três estágios desta reintegração – isto é, Calcinação, Separação e Coagulação para usar termos alquímicos. É durante o próximo estágio que o indivíduo que está seguindo um planejado e prático caminho mágico ganha uma perspectiva tanto cultural quanto Aeonica. Isto permite um entendimento do relacionamento existente entre o indivíduo e seu Destino único e aquelas forças que são simbolizadas pela fórmula mágica ou ‘palavra’ que representa um Aeon particular.

Tal entendimento (associado com o quarto estágio – a esfera do Sol – e o quinto estágio, Marte) deriva ou tem sua fundação numa afirmação racional e usualmente envolve o indivíduo estudando Aeons, civilizações e as relações entre eles.

De qualquer forma, o sistema de Crowley, assim como muitos sistemas derivando no todo ou em parte de seu trabalho, nunca chega neste estágio porque ele (a) coloca a fórmula de mágica sexual acima de tudo, e (b) nega com esta afirmação a análise racional requirida. O mesmo é verdade para outros sistemas mágicos envolvidos no lado ‘escuro’ e os quais tentam de alguma forma deixar os indivíduos seguindo-os experimentar sua própria natureza sombria. Uma integração e assim entendimento desta natureza – permitindo ao indivíduo construir sobre as fundações assim adquiridas – de necessidade implica o desenvolvimento destas qualidades como razão, lógica e entendimento científico, o qual Crowley em todo abandonou. Ainda seu desenvolvimento não implica numa massa de conceitos Ocultos e pseudo-científicos como ‘mecânica quântica’ e ‘relatividade’ – um instável amálgama da moda em certos círculos. Particularmente, ele implica no desenvolvimento da mente e de uma certa forma de pensamento.

Em ambos os níveis esotéricos e exotéricos, o passo mais significante na evolução de nossa consciência tem sido o desenvolvimento da análise racional e sua extensão como método científico. A aceitação deste método (o que não impede a aceitação das forças com as quais a mágica lida) implica numa certa ‘visão de mundo’ e uma afirmação pessoal para viver: um caminho, o qual é de uma vez cauteloso, geralmente otimista e aberto e investigador. Esta ‘visão do mundo’ ou modo de pensar deriva dos Gregos antigos – é expressado em sua filosofia remota (isto é, antes do declínio representado por Plato), em sua atitude religiosa e em seu modo de vida. É essencialmente a mesma atitude exemplificada pelo paganismo Ocidental, e é a antítese da visão e caminho representado pela religião do Nazareno. A religião do Nazareno inverte todos os valores naturais – como Nietzsche entendeu. Thelema, e crenças similares, nega, como a filosofia e vida Nazarena o faz, aquela espontaneidade natural que é a essência desta ‘visão de mundo’ pagã – porque Thelema liga a mente em nós de obscuridade e especulação metafísica (como a cabala em geral o faz) e brevemente livra o espírito apenas para sobrecarregá-lo com as correntes de sua própria metafísica.

O verdadeiro ethos do Ocidente – que a religião do Nazareno distorceu e suplantou – pode ser simbolizada pela palavra ‘Azif’ e o símbolo da roda do sol; é pagã em essência. O ethos do Ocidente (que deriva da presente força Aeonica ou ‘corrente’ primeiramente estabelecida em 500 DC) não é e nunca foi patriarcal no sentido que Crowley e seus seguidores acreditavam – tal ethos ‘patriarcal’ representando a distorção imposta sobre o ethos original pelos Nazarenos. Que Crowley e outros estavam inconscientes disto é indicativo de como removida Thelema é da genuína tradição esotérica. Esotericamente, o genuíno ethos Ocidental é simbolizado pela força que tem se tornado conhecida como ‘Satã’ ou Lucifer. Exotericamente, isto representa o desejo de conhecer que tem conquistado sua grande manifestação na ciência e exploração modernas.

Uma análise de forças Aeonicas indica que o presente Aeon tem, no nível prático – isto é, em termos de seus efeitos na vasta maioria dos indivíduos que devido a eles não terem sido libertados por Iniciação Oculta são manipulados por influências externas – aproximadamente mais três séculos de duração. Durante este tempo, a distorção da corrente causada pelos Nazarenos e seus aliados podem ou não continuar – dependendo em como certos Iniciados usam certas poderosas forças mágicas. Qualquer que seja, o ‘Novo Aeon’ (o sexto de sete que marcam nossa evolução) terá seus começos no nível mágico com as próximas décadas – embora no nível prático ainda serão outros três séculos até os efeitos serem aparentes. Este novo Aeon não terã nenhuma ‘palavra’ e sua mágica será a mágica do ‘Pensamento’, que é empatia espontânea. Uma das facetas mais fundamentais deste novo Aeon será o desenvolvimento de uma linguagem simbólica, que extende as fronteiras do pensamento. Tal linguagem já está pré-figurada no Jogo Estelar – assim como o Jogo Estelar por si próprio estava pré-figurado na Alquimia tradicional. Outra faceta do novo Aeon será a emergência de um novo tipo de indivíduo: um tipo esboçado por Nietzsche. Este novo indivíduo será feroz, livre (de ambas influências externas e internas/psíquicas), exultado em exploração e descoberta e possuidor duma atitude essencialmente pagã para com a vida. É e tem sido um dos objetivos das genuínas Ordens sinistras produzir tais indivíduos – por ter seus Iniciados seguindo o caminho sinistro das sete-esferas.

O que tem acontecido nos últimos cinquenta ou mais anos é que a distorção do ethos Ocidental – e assim da genuína corrente Aeonica – foi aumentado. Parte deste aumento é, de fato, devido a Crowley e aqueles que tem seguido-o e seu sistema sem realmente entender o que eles estavam fazendo. A genuína tradição esotérica Ocidental – enquanto distinta do que muitos Ocultistas querem acreditar ser a ‘tradição secreta’ – não tem nenhuma conexão com a cabala, ou mistérios e simbolismos Egípcios, e nem emprega de qualquer forma a feitiçaria de ‘mágica de grimório’ e as formas uma vez apropriadas para agora Aeons mortos sejam tais formas Sumerianas, Babilônias, Egípcias ou qualquer outra.

As bases da tradição Ocidental foi e sempre tem sido racional no sentido de que aqueles que continuaram nesta tradição procuraram entender eles mesmos, o mundo e o cosmos numa maneira apartada – livre de dogma religioso/político. Isto é, para entender as coisas como estas coisas são em si mesmas: sem a projeção de crenças e idéias… Para este fim, o sistema septenário foi evoluído, e os ‘mistérios’ expressados em simbolismo abstrato (do qual Alquimia foi uma forma). A essência da tradição Ocidental não foi algum ‘grande segredo’ ou ‘conhecimento escondido’ para ser revelado apenas para Iniciados – particularmente, ele foi a crença de que tudo no cosmos pode ser entendido se for experimentado, investigado ou pensado o suficiente sobre isto. Isto é, o cosmos era visto como uma ordem natural onde os indivíduos poderiam ganhar insight. Deste insight, um novo indivíduo iria emergir: uma pessoa mais consciente, evoluída.

A tradição assim encourajou o desenvolvimento no indivíduo de empatia via experiência pessoal: uma experimentação de todos os aspectos de nossa própria natureza assim como dos mundos dentro e fora. Assim eram as próprias faculdades ‘mágicas/Ocultas’ desenvolvidas. O caminho desta tradição era essencialmente prático – exemplificado pelos Rituais de Grade, tarefas e assim por diante do caminho das sete-esferas. Não havia nenhum sistema especulativo metafísico, nenhuma aceitação de medos e crenças irracionais, nenhuma subserviência à mitologia pessoal de alguém.

O novo Aeon deve ser uma continuação do processo o qual a genuína tradição Ocidental começou. Ainda é possível que este novo Aeon possa nunca emergir. A distorção da corrente Ocidental foi e tem representado um desejo por alguns de retornar ao que pode ser descrito como um aspecto do ethos Babilônio. Este aspecto deu origem eventualmente à não apenas o veneno da filosofia e religião Nazarena, más também às muitas idéias e sistemas políticos e sociais fundados na ‘visão de mundo’. Há, neste momento no tempo, um conflito mágico muito real ocorrendo entre duas forças – aquelas representando (se conscientemente ou não é imaterial) este ethos Babilônio/Nazareno, e aqueles representando a genuína (e assim sinistra) tradição Ocidental. No resultado deste conflito depende o novo Aeon – haverá tanto o novo Aeon com o florescer do indivíduo e o desenvolvimento da consciência fornecendo assim uma liberação da tirania da religião e política, ou um retorno para aqueles essenciais valores dualistas patriarcais onde ideologias/ideais tem preferência sobre o indivíduo. Cada ato de genuína mágica sinistra é um passo para o novo Aeon. Thelema é um passo para trás no passado – assim como outros sistemas aos quais faltam a empatia, aquela experiência e então transcendência que o sinistro traz.

– Ordem dos Nove Ângulos –

extraído de Hostia, Volume I – Traduzido por Fabius Maximus Sanguinus

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