
Manuscrito da ONA
Por Anton Long. Tradução de Ícaro Aron Soares, @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.
Lapis Philosophicus – a joia do alquimista; o objetivo que o alquimista, por meio da alquimia, busca. A posse desta joia é, de acordo com a tradição auditiva, suficiente para presentear o alquimista com sabedoria e o segredo de uma imortalidade pessoal.
Deixe-me começar a história – do segredo do lapis philosophicus – no final, e qual escrita sobre esta história em particular será a última escrita minha sobre qualquer assunto oculto, esotérico, e, portanto, o fim da minha conversa.
A história termina com uma descoberta antecipada: que o penúltimo estágio (não importa como seja chamado: Mago, Grão-Mestre, Grã-Mestra) daquela jornada oculta genuína e duradoura que começa com a iniciação (de qualquer tipo: hermética, cerimonial, eu) é o mesmo, quer alguém tenha começado e seguido o que foi descrito como “O Caminho da Mão Esquerda”, ou se alguém tenha começado e seguido o que foi descrito como “O Caminho da Mão Direita”. Pois no contexto de além do Abismo, tais designações baseadas em tal dicotomia se tornam, e são, irrelevantes porque sem sentido e significado.
Isto é, o “segredo externo” da alquimia interna, real, viva é que o fim e o resultado de ambas as nossas jornadas aparentemente separadas são as mesmas; o mesmo lugar, o mesmo entendimento, o mesmo conhecimento. Pois a sabedoria é indivisa, a mesma para todos nós, não importa o que acreditamos ou assumimos quando começamos. Ou expressa de outra forma, lapis philosophicus é o que é, e sempre foi, e faz o que faz, e sempre fez, em termos de como afeta e muda aqueles poucos que tiveram sucesso em seu esforço de décadas e, portanto, o descobriram, e o descobriram onde sempre esteve escondido.
Naturalmente, aqueles que não descobriram, não encontraram, lapis philosophicus ou não apreciarão isso ou discordarão disso; assim como, é claro, todos aqueles que fingem aos outros (e/ou a si mesmos) que encontraram o lapis philosophicus e, portanto, reivindicam ou concedem a si mesmos algum título exaltado ou algum grau Oculto ou o que quer que seja.
Como mencionei em um MS anterior:
“Nosso trabalho real, tanto como indivíduos quanto como uma Ordem – nossa Magnum Opus – é genuinamente esotérico e Oculto, e, portanto, preocupado com o lapis philosophicus e não com alguma autoindulgência puramente causal, ou alguma mudança externa efêmera em alguma forma ou formas causais, ou com o uso de tais formas para tentar efetuar alguma mudança externa. Pois é esse trabalho esotérico, esse Oculto, que irá, afetiva e efetivamente, introduzir e manter as mudanças Aeônicas que desejamos e planejamos – em sua própria espécie de Tempo acausal.”
Além disso, esse trabalho, à medida que alguém se move após décadas de pathei-mathos em direção ao Abismo da necessidade, envolve uma vivência do sinistramente numinoso. Para aqueles do LHP – tendo seguido ‘o sinistro’ – vivendo numinosamente por um período de alguns anos; para aqueles do RHP – tendo seguido ‘o numinoso’ – vivendo sinistramente por um período de alguns anos. Pois tal vida (e o pathei-mathos que necessariamente faz parte dela) é um meio de conhecer, viver (se mover em direção a se tornar) o equilíbrio natural, a Vida, além dos opostos abstratos e de todas as abstrações. Desenvolve-se assim um conhecimento de Wyrd, uma perspectiva Aeônica, levando o indivíduo ‘sinistro’ além do destino pessoal, além do eu, e muito além da tentativa, da primitiva, deificação do ego dos charlatões e dos novatos de um ‘caminho’ particular. Depois disso, segue-se a provação do Abismo que, para ambos os tipos, ambos os caminhos, é viver sozinho por um mês ou mais de uma certa maneira difícil, embora simples, como por exemplo delineado no tradicional rito Camlad do abismo.
Qual é, então, o ‘segredo interior’ da alquimia viva? Qual é, em outras palavras, a natureza do lapis philosophicus, os afetos, do objeto cuja descoberta é o propósito final da nossa jornada Oculta ao longo da vida? A última parte deste ‘segredo’ é simbolizada pelo último estágio/grau, iniciado, mas ainda não alcançado, à medida que o nexion mortal de alguém se fecha: durante a estação alquímica correta, e no Tempo causal correto além do poder mortal de alguém escolher, decidir, pois é quando é, e será pela descoberta do lapis philosophicus se tornará conhecido e não pode ser escolhido/decidido por nós nem impedido por nenhum meio. A parte do meio deste ‘segredo’ é que o objeto da nossa jornada nunca esteve realmente distante e nem estava escondido de forma alguma; nós apenas assumimos ou acreditamos que era, e nós só tivemos que aprender não apenas a ver como podemos ver, mas não sabíamos que podíamos, mas também a saber, entender, sentir, apreciar, o que é visto, sans denotatum, e ser tais palavras denotatum (verbais, escritas), simbólicas, ideação (da ‘mente’), arquetípicas, ou o que quer que seja. A primeira parte deste ‘segredo’ diz respeito a um certo conhecimento: sobre ‘a água viva’, azoth; sobre a natureza do Tempo, do Ser, da consciência, do Cosmos, e assim sobre nossa natureza como existentes mortais, como seres, neste reino do fenômeno; de como somos o Tempo além de sua dicotomia percebida e somos e fomos e seremos o Ser, e temos o potencial de nos tornar/retornar ao Ser além de nossa existência temporária percebida como seres mortais conscientes. Mas é preciso estar ‘lá’/aqui – agora/então/quando e em/dentro/além do Tempo – para ‘ver’, saber, sentir, apreciar, entender, isto. O resto é preparação ou nulo.
Anton Long
2/2/123 yfayen
ALGUNS TERMOS OCULTOS BREVEMENTE EXPLICADOS
Perspectiva Aeônica
A expressão “a perspectiva Aeônica” — também conhecida como perspectiva Cósmica — é usada para descrever alguns de nossos pathei-mathos, algumas de nossas experiências; isto é, para descrever alguns conhecimentos que adquirimos por meio de uma combinação de experiência prática, por meio de um estudo acadêmico e por meio do uso de certas faculdades e habilidades Ocultas, como a empatia esotérica.
Este conhecimento diz respeito a vários assuntos, alguns a ver com a forma como entendemos o ser humano individual, alguns a ver com nossa percepção dos Aeons e alguns a ver com nossa práxis e o propósito e eficácia de nossos métodos e técnicas, tanto exotéricos quanto esotéricos.
Em termos de formas causais, há o entendimento iniciado de que o que, para os seres humanos, é esotérico, evolucionário — o que apresenta energia acausal e, portanto, Vida — é mudança interna, não externa. Isto é, que nenhuma forma causal, nenhuma práxis não-Oculta, produz ou pode produzir mudança Aeônica, embora tais formas, tal práxis, possam ocasionalmente resultar em alguns, poucos, indivíduos a cada século, via pathei-mathos, alcançando um certo insight e entendimento e, portanto, se tornando seres humanos mudados, mais evoluídos.
Ou, expresso de outra forma, as mudanças provocadas por formas causais — por guerras, revoluções, impérios, nações e por meios como política ou reforma social, ou por governos — são transitórias e não afetam, ao longo dos séculos, os seres humanos em massa. Pois os humanos permanecem e permaneceram basicamente os mesmos; seres primitivos, dependentes e cativos de abstrações, de suas emoções, de forças arquetípicas, e nunca desenvolvendo suas faculdades latentes, nunca cumprindo seu potencial Cósmico, com apenas alguns raros seres humanos alcançando sabedoria.
Alquimia
al-χημία [de χῡμεία] – ‘a mudança’.
De acordo com a tradição auditiva, a alquimia esotérica – a alquimia secreta – é um processo simbiótico que ocorre entre o alquimista e certas ‘coisas’/elementos vivos, cujo objetivo é adquirir ou produzir Lapis Philosophicus, e cuja ‘joia do alquimista’ é considerada como possuidora tanto do dom da sabedoria quanto do segredo de uma imortalidade pessoal.
A alquimia, corretamente entendida e apreciada, não está – como os mal informados passaram a acreditar ou foram levados a acreditar – preocupada com a mudança, a transformação de substâncias inertes, sem vida (químicas ou não), mas com a transformação do alquimista por um tipo particular de interação com ‘coisas’ vivas, humanas, da Natureza e do Cosmos, e de ‘coisas’ vivas existentes tanto nos reinos causal quanto acausal. [Daí a antiga associação entre alquimia e astronomia.] Essa interação, por sua natureza – sua physis – é ou se torna simbiótica, com o alquimista e as substâncias/coisas usadas, sendo assim alteradas por tal simbiose.
Ou seja, está preocupada com o que descrevemos como ‘o sinistramente numinoso’; com acessar e usar/mudar as energias acausais dos seres vivos, e quais energias acausais necessariamente incluem a psique do alquimista.
Portanto, a alquimia esotérica é um tipo particular de “mudança interna” dentro e do indivíduo, bem como uma Arte esotérica prática envolvendo a fabricação/uso de tipos particulares de substâncias/”seres”/coisas esotéricas – vivas.
Esotérico
Por esotérico queremos dizer não apenas a definição padrão dada no Oxford English Dictionary, que é:
“Do grego ἐσωτερικ-ός. De doutrinas filosóficas, tratados, modos de discurso. Projetado para, ou apropriado para, um círculo interno de discípulos avançados ou privilegiados; comunicado para, ou inteligível por, os iniciados exclusivamente. Portanto, de discípulos: Pertencente ao círculo interno, admitido ao ensinamento esotérico.”
mas também e importantemente pertencente às Artes Ocultas e imbuído de um certo mistério, e impregnado do que chamamos de “o sinistramente numinoso”.
Psique
A psique do indivíduo é um termo usado para descrever aqueles aspectos de um indivíduo – aqueles aspectos da consciência – que são ocultos, ou inacessíveis, ou desconhecidos para o indivíduo. Basicamente, tais aspectos podem ser considerados como aquelas forças/energias que influenciam ou podem influenciar o indivíduo de uma forma emocional ou de uma forma sobre a qual o indivíduo não tem controle direto ou compreensão. Uma parte desta psique é o que tem sido chamado de “o inconsciente”, e algumas das forças/energias deste “inconsciente” foram, e podem ser, descritas pelo termo “arquétipos”.
Em termos práticos, a psique do indivíduo é um nexo, entre causal e acausal.
Sabedoria
Por termo sabedoria queremos dizer não apenas a definição padrão do dicionário – um julgamento pessoal equilibrado; ter discernimento – mas também o sentido mais antigo de ter certo conhecimento de um pagão, Oculto, tipo a ver com seres vivos, natureza humana, e sobre a Natureza e ‘os céus’. A saber, possuir certas faculdades, como a empatia esotérica, o conhecimento de si mesmo; possuir um conhecimento Aeônico; e assim conhecer a Realidade além, e sem, todas as abstrações causais.
SOBRE O TRADUTOR
Ícaro Aron Soares, é colaborador fixo do PanDaemonAeon e administrador da Conhecimentos Proibidos e da Magia Sinistra. Siga ele no Instagram em @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.
ORIGINAL
https://magiasinistra.wordpress.com/2025/02/05/lapis-philosophicus-2