Ordem da Juremataia

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Sociedade Secreta, dedicada à teurgia, à alquimia e à uma prática espiritual denominada AYOKÁ, tida por “sucessora” da misteriosa “ORDEM DA SARÇA ARDENTE” .

A “ORDEM DA SARÇA ARDENTE” foi uma Sociedade secreta, de objetivos desconhecidos e inspirações, que reunia maçons espíritas (ou espíritas maçons) na região norte (e talvez também nordeste) do Brasil , durante a primeira fase da República Brasileira, para a prática de magia cerimonial , iniciações e invocações num contexto da mística judaico-cristã.

Seu emblema trazia a representação de uma Acácia amarela (árvore ligada à simbologia maçônica) sobre a qual se enroscava uma videira (planta ligada à simbologia espírita/kardecista, em razão do desenho supostamente manuscrito pelos espíritos na ocasião da primeira publicação de LE LIVRE DES ESPIRITS, original em francês de O LIVRO DOS ESPÍRITOS de ALLAN KARDEC.).

A existência e atividades desta sociedade secreta foram registradas durante a primeira metade do século XX no Estado do Pará, não havendo registros posteriores exceto por rumores de que teria sido “dissolvida” ainda na década de 1930-1940 .

Essa “ORDEM DA SARÇA ARDENTE” é considerada por alguns estudiosos da história do ocultismo no Brasil como sendo precursora de uma outra sociedade secreta, extemporânea, chamada “ORDEM DA JUREMATAIA”, descrita como “ordem Iniciática, alquímica e teúrgica”, e que foi fundada na Chapada Diamantina, Bahia, na segunda metade do século passado.

A “ORDEM DA JUREMATAIA” adotou emblema muito semelhante ao da “ORDEM DA SARÇA ARDENTE”, onde a Acácia-Amarela maçônica foi substituída por uma JUREMEIRA (acácia dos sertões nordestinos), e a VIDEIRA substituída por uma vinha de MARACUJAZEIRO (liana nativa dos sertões brasileiros). Sem falar que a própria palavra “JUREMATAIA” pode ser etimologicamente relacionada à palavra “SARÇA-ARDENTE” , através do TUPI.

Segundo alguns relatos contemporâneos, o fundador da Ordem da Juremataia (inicialmente uma pequena confraria autodenominada “Círculo da Juremataia”) , conhecido por “MESTRE JANUÁRIO”, seria de origem paraense, descendente de índios, e teria sido Grão-Mestre da antiga Ordem da Sarça Ardente (antes da dissolução da mesma em meados do século passado).

Vindo a se mudar , acompanhado de sua família, para a região nordeste do Brasil a serviço do antigo SPI (Serviço de Proteção aos Índios), JANUÁRIO (cujo sobrenome se desconhece já que a ordem guarda absoluto sigilo sobre a identidade de seus membros) teria fundado a “ORDEM DA JUREMATAIA” (inicialmente “Círculo da Juremataia”) após aposentar-se do seu trabalho como indigenista no SPI, período durante o qual teria sido iniciado no chamado “Adjunto da Jurema”, espécie de culto secreto característico de diversas etnias nordestinas.

Conta-se que a iniciação de mestre Januário nos mistérios da “Jurema Sagrada” , ocorrida numa extinta ilha do Rio São Francisco (Ilha da Viúva) , levou-o a uma verdadeira epifania e operou profunda transformação nas suas concepções religiosas e espirituais, vindo ele a abandonar – logo em seguida- as práticas invocatórias de magia cerimonial a que se dedicava na Ordem da Sarça Ardente, passando então a preconizar uma nova prática espiritual, mais interiorizada , por alguns definida como uma forma de Teurgia realizada pela via “interna”.

Durante seus primeiros anos na região da Chapada Diamantina , mestre Januário teria estabelecido as bases desse novo sistema iniciático , que fundia a corrente esotérica do Cristianismo com a tradição da “Jurema Sagrada” nordestina. Durante décadas essa tradição foi passada de mestre a discípulos apenas no âmbito familiar do mestre , juntamente com amigos próximos com os quais formaram uma confraria- informal- a princípio autodenominada simplesmente “Círculo da Juremataia”.

Ao que tudo indica, o processo de estruturação dessa tradição na forma de uma Ordem iniciática só começaria a ocorrer de fato no final do século passado e início deste século, através de discípulos que haviam sido consagrados por mestre Januário para darem início à essa missão e supostamente dele teriam recebido essa autorização para estruturar a Ordem após a sua “passagem”.

Apesar de uma pequena expansão e “abertura”, o almejado processo de estruturação iniciado pelo referido grupo de discípulos de mestre Januário parece não ter avançado muito neste século e, segundo se conta, esbarrou em algumas disputas e divergências internas, assim como em diversos entraves legais, especificamente relacionados à necessária autorização do poder público para o uso ritual do AJUKÁ (bebida comungada nos rituais da Ordem, e que é preparada com plantas que contém substâncias de uso proscrito pela legislação) .

Por conta das dificuldades na estruturação da Ordem da Juremataia, a mesma hoje parece continuar operando apenas de forma secreta e informal, restrita a um pequeno número de discípulos iniciados por mestre Januário no seu círculo da Chapada Diamantina, e um diminuto grupo de neófitos admitidos após a “passagem” do mestre Januário.

Esses discípulos apresentam a “JUREMATAIA” como sendo a “terceira rama” ou a “rama esotérica” da “Jurema Sagrada” nordestina, contrapondo a sua “teurgia interna” às outras demais “ramas” do culto contemporâneo da ‘Jurema sagrada”; Ou seja, colocam a JUREMATAIA ao lado e aparte tanto da “encantaria” hoje praticada pela “rama indígena” (“TORÉ”) como do “espiritismo” e “magia cerimonial” praticadas pela “rama afro-ameríndia” (CATIMBÓ).

Segundo se conta, da mesma forma que acontece na maçonaria ( dita “salomônica”) a origem da linhagem que deságua nesta Tradição iniciática (“JUREMATAIA”) remonta- segundo seus seguidores- ao (lendário?) Rei Salomão. Mas segundo relatos, “Mestre Januário” – antes de fundar a “ORDEM DA JUREMATAIA”- teria se afastado tanto da maçonaria regular quanto do espiritismo kardecista, afastamento que teria se dado somente após a sua iniciação, nos mistérios da “Jurema Sagrada”, entre os remanescentes indígenas da Ilha-da-Viúva, caboclos a quem o mestre chamava de “Os verdadeiros Filhos-da-Viúva”.

Diz-se que entre os mitos presentes na Ordem da Juremataia há um muito importante segundo o qual, na antiguidade remota, o Rei Salomão teria fundado – a fim de resguardar um precioso tesouro- uma cidadela no alto da Serra das Almas , na Chapada diamantina, e que esta cidade – tempos depois- teria sido “encantada” com todos os seus habitantes para o mundo espiritual, tendo ela o nome de “LUZ”. Contam que mestre Januário teria sido transportado “em espírito” a esta cidade encantada, onde recebera os segredos e mistérios nos quais passaram a ser iniciados os seus discípulos, dando início à tradição da JUREMATAIA na Chapada Diamantina.

Parte das doutrinas, rituais e atividades operativas da Ordem da Juremataia vieram superficialmente á Público neste século através de algumas publicações do chamado (novo) “ADJUNTO DA JUREMA”, o qual apresenta-se como “círculo externo da ORDEM DA JUREMATAIA”, englobando os chamados graus “simbólicos” ou “alquímicos” da Iniciação na Ordem.

Os referidos graus “alquímicos” (de alquimia “interna”) seriam em número de quatro (3 + 1) aos quais o ingressante/neófito teria acesso após a sua admissão (“ensementação”), etapa inicial – de admissão à iniciação- que eles fazem corresponder à etapa alquímica do “nigredo”. Seriam eles: “discípulo iniciante” ou “juremeiro” (correspondente à etapa alquímica do “albedo”), “discípulo praticante” ou “juremado”(correspondente à etapa do “citrinitas”) , “mestre” ou “coroado” (correspondente à etapa do “rubedo”) e “arquimestre” ou “mestre consagrado” (correspondente à etapa alquímica que chamam “viriditas”, e que – nesse sistema- corresponde ao aperfeiçoamento final da Obra).

Os “arquimestres” ou “Mestres Consagrados” seriam os que compõem o “círculo interno” ou “ministerial” da Ordem da Juremataia , e são consagrados ao serviço na ordem, primeiramente como “Introdutores” da doutrina . E, conforme sua vocação, podem ser ordenados como “arquimestres mentores/ instrutores”, “arquimestres feitores” , ou “arquimestres reitores”, que são os ofícios ou “munus” que lhes serão atribuídos- conforme sua vocação- no sistema de preparação dos futuros mestres e orientação espiritual dos discípulos. Havendo ainda um “arquimestre imperador”.

A autoridade maior seria exercida pelo “Grão Mestre” da Ordem da Juremataia, representante máximo da cadeia sucessória iniciada por Mestre Januário.

Característica peculiar das suas práticas espirituais e rituais, denominadas “AYOKÁ”, é a TEURGIA/ALQUIMIA INTERNA que tem como um de seus instrumentos a ingestão de bebidas ritualmente preparadas e servidas aos discípulos, feitas principalmente à base das ervas “JUREMA” e “MARACUJÁ” , às quais são atribuídas virtudes “ENTEÓGENAS”; Enteógeno é um neologismo usado para designar um preparado ou substância química, normalmente de origem vegetal, que é ingerido para produzir um estado de consciência não-ordinária com finalidades religiosas ou espirituais.

Diz-se que esta misteriosa Ordem encontra-se espiritualmente e karmicamente vinculada ao povo e à terra da Bacia do Rio São Francisco e da Chapada Diamantina, sendo sua sede (chamada de “Alto-do-Espinhaço”) localizada na Bahia, sobre a Cordilheira do Espinhaço, na Serra das Almas, aos pés da qual nasce um dos principais afluentes do Velho Chico, e onde se localiza o segundo ponto mais alto do nordeste

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