
Por Colby Michael. Tradução de Ícaro Aron Soares, @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.
A Conexão entre Ervas Nocivas e a Bruxaria Tradicional
A Via Venenosa, como ficou conhecido, é um ramo do herbalismo oculto combinado com práticas rituais enteogênicas, química botânica e magia. Como qualquer prática baseada em plantas, os caminhos de estudo são vastos e alguém poderia dedicar a sua vida simplesmente à investigação destas plantas intrigantes. No entanto, como outras práticas baseadas em plantas, ela aprimorou uma infinidade de outras práticas mágicas, fitoterapia popular e mitologia. A Via Venenosa, por falta de um termo melhor, é focada em ervas nocivas, enteógenos e plantas que alteram a mente usadas em rituais. Os enteógenos são nomeados por sua capacidade de nos abrir para o mundo espiritual por meio da consciência alterada. Eles nos abrem para o divino. Muitas dessas plantas também são conhecidas por sua natureza nociva, sua reputação como poderosos venenos botânicos se ingeridas de maneira inadequada; no entanto, muitas dessas plantas também são poderosamente medicinais para aqueles que sabem como usá-las. Elas têm sido usadas há séculos por muitas culturas, que também as empregaram ritualisticamente.
A Via Venenosa sugere que é uma prática espiritual autônoma que pode ser seguida de forma independente, como se fosse sua própria tradição exclusiva. Embora o estudo dos enteógenos rituais seja uma área legítima de especialização, com áreas de investigação suficientes para mantê-lo ocupado por décadas; é uma subcategoria ou conjunto suplementar de ferramentas e conhecimentos que podem ser acessados para complementar uma tradição espiritual diversificada. Essas plantas não são divindades e não se constrói toda uma tradição em torno delas. Também não podemos presumir que sejam a única forma de acessar determinados estados de consciência. Existem muitas técnicas para entrar em transe, alterar a percepção e encorajar experiências espirituais que não requerem o uso de substâncias que alteram a mente. As plantas que pertencem à Via Venenosa são uma das muitas ferramentas e aliadas que encontraremos ao longo do caminho.
Comecei a trabalhar com estas plantas há anos através do meu estudo de Bruxaria Tradicional, fitoterapia popular e um estudo das tradições animistas da Europa pré-cristã. Minha pesquisa sobre práticas modernas de Bruxaria às vezes oferecia uma menção a uma das ervas bruxas do velho mundo, mas raramente qualquer informação séria ou útil. O conhecimento dessas plantas poderosas parece ter sido mantido fora da Bruxaria Moderna e de sua tradição vegetal por algum tempo, só recentemente retornando.
Quando olhamos para essas plantas, começamos a notar semelhanças. Muitas delas são da mesma família, a família das Solanaceas ou Nightshade. Elas estão cercadas por superstições e conhecimentos fantásticos, aparecendo superficialmente como nomes secretos para ingredientes mais mundanos, semelhantes a coisas como asa de morcego ou olho de salamandra. Após uma investigação mais aprofundada, temas semelhantes na mitologia começam a surgir. Muitas destas plantas estão associadas através da sua mitologia a divindades do Submundo, da noite e da magia. Hécate, Circe e Medeia são personagens comuns no mito dessas plantas e são conhecidas pelo conhecimento de seu uso em particular.
Nas correspondências herbais medievais, elas são frequentemente ligadas a Saturno devido à sua natureza venenosa. Saturno figura como uma espécie de pai bruxo arquetípico em muitos casos, especialmente quando olhamos para suas associações mais antigas com a agricultura e o ensino da humanidade. Os temas prometeicos também são evidentes na tradição dessas plantas, muitas das quais eram consideradas presentes dos deuses, tendo origens divinas ou infernais. A sua ligação com a morte também se apresenta em múltiplas ocasiões, não apenas pela sua natureza venenosa, mas pelas suas origens e aplicações. Plantas como o meimendro estão presentes no submundo da mitologia grega, desempenhando um papel na transição dos recém-mortos. Muitas divindades psicopômpicas e espíritos liminares são representados com uma ou mais dessas plantas. Seus usos rituais geralmente envolvem a convocação de espíritos, a comunicação com os ancestrais ou a alteração da consciência para viajar ao Submundo.
A superstição medieval conectou muitas dessas plantas com o Diabo e os espíritos malignos em geral. Uma cultura de medo e trepidação foi encorajada quando se tratava destas plantas em particular, e foi sugerido que alguns dos relatos de bruxaria durante este período foram devidos a alucinações provocadas por estas plantas. Uma coisa é certa, e é que a ligação que estas plantas têm com a magia, o mundo espiritual e os seres que trouxeram o conhecimento de tais coisas à humanidade, é inegável. Algumas plantas são conhecidas por suas virtudes curativas e outras são profundamente protetoras por natureza, mas essas são as plantas que têm uma afinidade inata com o mundo noturno do espírito e com os segredos misteriosos escondidos na terra.
Elas são catalisadoras das artes mágicas, atuando como professoras e familiares. Nem todas as plantas nesta categoria são uma toxina mortal ou um psicodélico que expande a mente. Algumas delas são afrodisíacos ou estimulantes que podem ser usados para celebrações rituais extáticas. Outras são sedativas ou hipnóticas que podem ser empregadas para sonhos proféticos ou atos de adivinhação. Existem aquelas que nos permitem viajar em espírito, ou trazer espíritos específicos para o nosso círculo. Estas plantas têm uma predisposição para as artes mais misteriosas da prática mágica e têm a capacidade de nos ensinar mais sobre nós mesmos e os muitos mundos que existem por aí.
SOBRE O TRADUTOR
Ícaro Aron Soares, é colaborador fixo do PanDaemonAeon e administrador da Conhecimentos Proibidos e da Magia Sinistra. Siga ele no Instagram em @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.
ORIGINAL
https://www.thepoisonersapothecary.com/blog/poisonous-plants-amp-witch-lore