
Liber Kaos: Magia do Caos para o Pandaemonaeon
Por Peter J. Carroll, Capítulo 3. Tradução de Ícaro Aron Soares, @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.
Artigo Anterior: Aeônica – A Ciência dos Aeons.
Na magia do caos, as crenças não são vistas como fins em si mesmas, mas como ferramentas para criar efeitos desejados. Perceber isso completamente é encarar uma liberdade terrível na qual nada é verdadeiro e tudo é permitido, o que quer dizer que tudo é possível, não há certezas e as consequências podem ser medonhas. O riso parece ser a única defesa contra a percepção de que não se tem nem mesmo um eu real.
O propósito dos rituais do caos é criar crenças agindo como se tais crenças fossem verdadeiras. Nos rituais do caos, você finge até conseguir, para obter o poder que uma crença pode fornecer. Depois, se você tiver algum senso, você vai rir e buscar as crenças necessárias para o que quer que queira fazer a seguir, conforme o caos o move.
Assim, o caoísmo proclama a morte e o renascimento dos deuses. Nossa criatividade subconsciente e poderes parapsicológicos são mais do que adequados para criar ou destruir qualquer deus ou eu ou demônio ou outra entidade espiritual na qual possamos escolher investir ou desinvestir a crença, pelo menos para nós mesmos e às vezes para os outros também. Os resultados frequentemente impressionantes obtidos pela criação de deuses pelo ato de se comportar ritualmente como se eles existissem não devem levar o magista do caos ao abismo de atribuir realidade suprema a qualquer coisa.
Esse é o erro transcendentalista, que leva a um estreitamento do espectro do eu. A verdadeira grandiosidade está na gama de coisas que podemos descobrir que somos capazes, mesmo que temporariamente tenhamos que acreditar que os efeitos são devidos a outra coisa para poder criá-los. Os deuses estão mortos. Vida longa aos deuses.
A magia atrai aqueles com muita arrogância e uma imaginação fértil, juntamente com uma forte suspeita de que tanto a realidade quanto a condição humana têm uma qualidade de jogo. O jogo é aberto e se joga por diversão. Os jogadores podem criar suas próprias regras até certo ponto e trapacear usando parapsicologia, se desejarem. O tipo de magia apresentado na seção Psiconomicon deste livro consiste em uma série de técnicas que agem como extensões extremas da estratégia normal que são possíveis dentro do jogo.
Um magista é alguém que vendeu sua alma pela chance de participar mais plenamente da realidade. Somente quando nada é verdadeiro, e a ideia de um verdadeiro eu é abandonada, tudo se torna permitido. Há alguma precisão no mito de Fausto, mas ele falhou em levá-lo à sua conclusão lógica.
É preciso apenas a aceitação de uma única crença para tornar alguém um magista. É a metacrença de que a crença é uma ferramenta para alcançar efeitos. Esse efeito é frequentemente muito mais fácil de observar nos outros do que em si mesmo. Geralmente é muito fácil ver como outras pessoas, e de fato culturas inteiras, são habilitadas e desabilitadas pelas crenças que possuem. As crenças tendem a levar a atividades que tendem a reconfirmar a crença em um círculo que eles chamam de virtuoso em vez de vicioso, mesmo que os resultados não sejam divertidos. O primeiro estágio de ver através do jogo pode ser uma iluminação chocante que leva a um cinismo cansado ou ao budismo. O segundo estágio de realmente aplicar o insight a si mesmo pode destruir a ilusão da alma e criar um magista. A percepção de que a crença é uma ferramenta e não um fim em si tem consequências imensas se totalmente aceita. Dentro dos limites estabelecidos pela possibilidade física, e esses limites são mais amplos e maleáveis do que a maioria das pessoas acredita, pode-se tornar real qualquer crença que se escolha, incluindo crenças contraditórias. O magista não é alguém que se esforça por qualquer objetivo de identidade limitado em particular, mas sim alguém que quer a meta-identidade de ser capaz de ser qualquer coisa.
Então, bem-vindo à Kali Yuga do pandemonaeon, onde nada é verdadeiro e tudo é permitido. Pois nestes dias pós-absolutistas é melhor construir sobre as areias movediças do que sobre a rocha, que o confundirá no dia em que se despedaçar. Os filósofos se tornaram nada mais do que os guardiões de sarcasmos úteis, pois o segredo foi revelado de que não há segredo do universo. Tudo é caos, e a evolução não está indo a lugar nenhum em particular. É puro acaso que governa o universo e, portanto, e somente assim, a vida é boa. Nascemos acidentalmente em um mundo aleatório onde apenas causas aparentes levam a efeitos aparentes, e muito pouco é predeterminado, graças ao caos. Como tudo é arbitrário e acidental, então talvez essas palavras sejam muito pequenas e pejorativas, em vez disso, talvez devêssemos dizer que a vida, o universo e tudo mais é espontaneamente criativo e mágico.
Apreciando a realidade estocástica, podemos nos deleitar exclusivamente com definições mágicas de existência. As estradas do excesso ainda podem levar ao lugar da sabedoria, e muitas coisas indeterminadas podem acontecer no caminho para o equilíbrio termodinâmico. É vão procurar terreno sólido para se firmar. A solidez é uma ilusão, assim como o pé que pisa nela, e o eu que pensa que possui qualquer um deles é a ilusão mais transparente de todas.
As pesadas embarcações fé estão furadas e afundando junto com todos os botes salva-vidas e jangadas engenhosas. Então você fará compras no supermercado das crenças ou no supermercado da sensação e deixará suas preferências de consumo definirem seu verdadeiro eu? Ou você, de forma ousada e despreocupada, roubará de ambos pela diversão? Pois a crença é uma ferramenta para alcançar o que quer que se escolha considerar importante ou prazeroso, e a sensação não tem outro propósito além da sensação. Portanto, sirva-se delas sem pagar o preço. Sacrifique a verdade pela liberdade em todas as oportunidades. A maior diversão, liberdade e conquista está em não ser você mesmo. Há pouco mérito em simplesmente ser quem você foi destinado a ser por acidente de nascimento e circunstância. O inferno é a condição de não ter alternativas.
Rejeite então as obscenidades da uniformidade, ordem e propósito artificiais. Vire-se e enfrente a onda de caos da qual os filósofos têm fugido aterrorizados por milênios. Pule e saia surfando sua crista, ostentando em meio à estranheza e mistério ilimitados em todas as coisas, para aqueles que rejeitam falsas certezas. Graças ao caos, nunca o esgotaremos. Crie, destrua, se divirta, IO CHAOS!
Próximo Artigo: Magia Prática – Introdução ao Psiconomicon.
SOBRE O TRADUTOR
Ícaro Aron Soares, é colaborador fixo do PanDaemonAeon e administrador da Conhecimentos Proibidos e da Magia Sinistra. Siga ele no Instagram em @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.
ORIGINAL
https://magiasinistra.wordpress.com/2025/01/24/principia-chaotica