
Via Sangris
Por Abyssal, Temple of THEM, Revista Anticósmica n. 1. Trad. Pt. Dom Wilians, Lotan. Revisão de Ícaro Aron Soares, @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.
+O+
Christos Beest me disse uma vez que ele estava aliviado por não ter “gritado no vazio”…se ele quis dizer o que quero dizer com isso agora, ao contrário eu me encontro em paz por estar fazendo exatamente isso. Eu grito no vazio porque é a única comunicação pura e honesta que existe. Não há, afinal, nada e ninguém além de mim que possa interpretar ou conhecer o meu ser e que não haja tolerância para tais coisas. Realmente não há compartilhamento direto de experiências de filosofias ou metodologias– existe apenas o que alguém faz para si mesmo, para o bem ou para o mal.
As escolas de sociologia e de idiomas dizem que não há comunicação real entre os seres humanos. Assim, não há ninguém externo que possa julgar ou oferecer conselhos– porque essa vida, essa existência, está entre mim e o vazio. Se alguém ouvir meu grito, deixe-o fazer os ecos que quiser– deixe-o impor suas próprias sanções de acordo com a vontade dele. Pois instruir diretamente, dirigir, orientar, oferecer conselhos aos outros, ou pretender conhecê-los é uma comunicação impura e desonesta.
Minhas convicções, minhas contradições, meus direitos, meus erros, minhas opiniões, minha loucura, tudo pertence ao vazio– é aí que estou cara a cara com cada um dos meus mistérios e sozinho com esses mistérios. É só para o Vazio que eu respondo. Para quem eu falo. Quem me conhece. Quem fala de volta. Linguagem, palavras, conversas são carregadas de pesos, armadilhas e submissões; carregada de grandeza, com limitações, com vontade. Falar com os outros é vincular os outros, buscar concordância, amizade, solidariedade, ganho material, ou companhia, garantia, validação, invalidação, orientação ou respostas. Respostas não podem vir quando há apegos, mas dentro de si mesmo através de si mesmo quando tudo se foi e os ossos foram limpos.
A conversa não pode deixar de ser uma má orientação, supõe e impõe, sugere, postula e inventa, sustenta e e desconstrói. Precisa e quer. Ele turvou a água clara da percepção e introduziu objetos estranhos no templo intocável e fechado. A conversa pede por submissão, por favores, por reconhecimento, por comércio, por amor, por dinheiro, por compreensão, por controle, por atenção, por culto– onde não pode haver nenhum, onde só pode haver uma conexão direta suprapessoal ao Ser ou a fabricação de um ruído que a distorce.
As vozes extras chutam um redemoinho de detritos, elas interferem na transmissão direta com o Vazio– tanto com a deles como com a minha. As palavras são ruídos que as pessoas não ouvem bem o que são– um tumulto cacofônico que obscurece a pureza, oculta a verdade, a simplicidade em si. O único caminho honesto que conheço agora é a solidão. Apenas ser e gritar no vazio por tanto tempo e tão alto quanto eu precisar. Então deixe o vazio compartilhar meus segredos com quem quiser ouvir. É assim que falo com os outros.
Que qualquer pessoa que ouça indiretamente e capte qualquer som que os agrade para si– sem tentar complicar sua própria comunicação com o vazio, pedindo-me esclarecimentos, fazendo perguntas, fazendo desafios, exigindo desconstrução, criticando aquilo que pertence ao vazio ou procurando me envolver– de modo que ela também não seja diretamente enganada pela promessa de ‘pessoa para pessoa’, por comunicação pessoal para fornecer clareza– pois ao contrário procuraria enganar a todos nós. A clareza é puramente entre o homem e o vazio. Qualquer coisa menor do que este silêncio sagrado que permite que os outros se comuniquem com o Vazio mais claramente, é impor distorção e uma tirania da vontade sobre outrem.
Que qualquer pessoa que ouça indiretamente e capte qualquer som que os agrade para si– sem tentar complicar sua própria comunicação com o vazio, pedindo-me esclarecimentos, fazendo perguntas, fazendo desafios, exigindo desconstrução, criticando aquilo que pertence ao vazio ou procurando me envolver– de modo que ela também não seja diretamente enganada pela promessa de ‘pessoa para pessoa’, por comunicação pessoal para fornecer clareza– pois ao contrário procuraria enganar a todos nós. A clareza é puramente entre o homem e o vazio. Qualquer coisa menor do que este silêncio sagrado que permite que os outros se comuniquem com o Vazio mais claramente, é impor distorção e uma tirania da vontade sobre outrem.
X
Uma compreensão interessante, ou melhor, apresentação de um entendimento. Quando eu formulei o modelo representativo de múltiplas camadas das meditações em esfera, elas foram compostas em torno desse resumo. Eu tentei falar sobre isso até certo ponto em referência a uma linguagem de imagens, embora parecesse irônico tentar usar mil palavras para argumentar que as palavras não têm sentido, exceto como meio de transmitir imagem para compreensão. Funcionou para Kierkegaard e Nietzsche, embora eu suponha que são quase um milhão de palavras postulando a falibilidade da linguagem como princípio e dispositivo. Eu divago embora. A forma elevada da meditação em esferas, que na verdade ainda uso com regularidade, é uma meditação sobre a forma separada inata de um eu. A esfera negra deve ser abstraída da natureza física. Na composição elevada ou em versões mais complexas, sugeri que se reconhecesse dentro da esfera duas aberturas, uma para a esquerda e outra para a direita.
À direita, havia uma abertura que entrava enquanto a esquerda era uma saída. Essa é a natureza da interação com o Vazio ou com a multidão. Outra distinção através de recitação ou práticas de meditação é formular a noção de que somente através da vontade ativa ou passiva a informação pode entrar no self ou ser excretada. Uma vez que o eu tome posse ou permita a absorção da informação, ele terá deixado o Vazio e se tornado parte de si mesmo, e pode nunca mais sair disso sem exercer força para se excretar de volta ao Vazio.
Uma vez que qualquer forma de percepção ou criação de si é excretada, é necessário vê-la como parte do Vazio e não ter apego ao eu. Na forma mais elevada da meditação, foi instruído ver no exterior da esfera um lodo ou uma substância semelhante a alcatrão e reconhecê-la como sendo o ego. É uma proteção ou essência reflexiva que também pode ser vista como uma acumulação que interrompe o processo dessa função de se relacionar porque pode capturar pensamentos ou abstrações e começar a pensar em si mesmo em fases relativas a ditames que não mais estão em posse ou estão além da capacidade de se relacionarem. Levando em conta as formas divinas usadas também na construção da Ordem de Saturno, esse ritual foi minha contribuição mais fundamental para a Ordem e suas metodologias. Compus isso e suas formas variadas para refletir as três representações das formas divinas e como uma metodologia para alterar sistematicamente a visão de mundo e abordar os conceitos de utilidade.
Dentro do modelo de RH isso era realmente tudo o que eu ‘roubei’ da Ordem enquanto encapsulava através de palavras e gesticulava minha percepção do trabalho final de um ‘Magister Templi’ ou ‘Adepto’ ou você escolhe a obscura referência para a palavra ‘realização’. O Eu auto-atualizado é aquele que reconhece o ser alienígena do eu e a separação do Ser do Vazio ou da comunalidade. Lidar com a futilidade da existência ou das relações é outra questão.
NT: Abyssal representa uma fração de milhares de e-mails que o Temple Of THEM escreveu / recebeu ao longo de uma década. Ele inclui conselhos dados e recebidos, e-mails de e para grupos ocultos, postagens em fóruns e tratamentos do Sinistro de uma ampla variedade de pessoas.
SOBRE O REVISOR
Ícaro Aron Soares, é colaborador fixo do PanDaemonAeon e administrador da Conhecimentos Proibidos e da Magia Sinistra. Siga ele no Instagram em @icaroaronsoares, @conhecimentosproibidos e @magiasinistra.